Crise assombra os reajustes
Governo avisa que, Se a arrecadação de impostos continuar caindo, vai chamar os servidores para rediscutir os aumentos de 1,8 milhão de trabalhadores
Luciano Pires Da equipe do Correio
A crise econômica é uma ameaça real aos aumentos autorizados no ano passado ao funcionalismo. Apesar de adotar um discurso cauteloso diante das incertezas que rondam o Brasil e o mundo, o comportamento das receitas é motivo de preocupação para o governo. Os setores mais sensíveis são monitorados diariamente, medidas de socorro estão sendo tomadas, mas o Palácio do Planalto não tem como garantir que a atividade produtiva e o emprego se sustentarão. Em entrevista ao Correio, o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva, explica que a intenção é honrar os acordos firmados com as categorias, mas adverte que, em caso de agravamento do cenário global, o cronograma de reajustes será revisto.
Há exatamente um ano, quando o Congresso Nacional extinguiu a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) — e secou os cofres federais em R$ 40 bilhões —, os sindicatos, entre eles o que representa os funcionários do Banco Central, foram chamados a repactuar prazos. Paiva alerta que, se for necessário, repetirá a ação, sem atropelos ou traumas. “Vamos buscar uma solução discutida. Se tivermos que rever alguma coisa, vamos fazer com tranquilidade”, diz. Dados da Receita Federal mostram que o recolhimento de impostos perde fôlego por causa da crise. Em janeiro, o recuo foi de 7,26% em relação ao mesmo mês de 2008. Outro levantamento, feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), indica que o segundo repasse do Fundo de Participação de Municípios (FPM) — referente aos 10 primeiros dias de fevereiro — caiu 61,4% em relação ao mesmo período de janeiro de 2009.
Com as melhorias salariais concedidas em 2008 a praticamente todos os servidores do Executivo federal, o debate remuneratório com foco no contracheque, de acordo com Paiva, está encerrado. O superpacote de reajustes que beneficiou cerca de 1,8 milhão de ativos, inativos, civis e militares terá custos financeiros escalonados até 2010. Neste ano, o impacto estimado é de R$ 28,4 bilhões. Conforme o secretário, a política de recursos humanos se ocupará com temas mais estruturais neste e no próximo ano — os últimos que restam de mandato ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A prioridade é dar ao serviço público uma fisionomia mais profissional, amadurecer as ferramentas que medem o desempenho individual e institucional, difundir de dentro para fora a busca pela qualidade e pela boa gestão.
Obstáculos Há, no entanto, algumas pedras no caminho. Uma delas diz respeito à paridade salarial entre ativos e inativos. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) se posicionou a favor da isonomia, contrariando teses históricas do governo. Os ministros da Suprema Corte reconheceram que uma mesma gratificação não pode ter pesos salariais distintos. “Claro que respeitamos as decisões judiciais, cumprem-se. Mas achamos que a questão da paridade está superada. Defendo que aposentados sejam adequadamente remunerados. A vinculação do ativo com o inativo tem tornado a administração pública, em alguns níveis, praticamente inviável”, completa o secretário.
Na agenda oficial as discussões sobre o direito de greve no funcionalismo e os gastos com a folha de pessoal também despertam as atenções. Duvanier Paiva avisa que há disposição política de mobilizar a base parlamentar de apoio na Câmara e no Senado, e aprovar projetos de interesse do Executivo que tratam desses temas. Polêmicas, as propostas desagradam interesses de uma parte do PT — partido de Lula — e dos sindicatos. O secretário de Recursos Humanos afirma que greve é um direito constitucional, mas que em determinadas áreas deve haver algum tipo de restrição. “Há setores que não conseguem funcionar nem com o mínimo (de pessoas exigido por lei). O direito de greve deve ser exercido sem causar qualquer tipo de prejuízo para a sociedade”, reforça Paiva. |