O Jornal Valor Econômico trouxe, na quinta-feira 26, matéria com balanço dos reflexos da crise econômica no mercado de trabalho brasileiro em função de acordos coletivos. Segundo o jornal o número de trabalhadores que sofreram diminuição nos rendimentos por conta de acordos de redução de jornada e salário, licença ou suspensão temporária dos contratos quase triplicou em fevereiro na comparação com o mês passado.
O levantamento feito pelo jornal revelou que 90.163 empregados foram atingidos por esses acordos coletivos, contra 31.553 em janeiro. Os setores que mais se valeram desse expediente foram o automotivo e de autopeças.
A maioria dos sindicatos considera positivos os resultados de fevereiro, pois os acordos, embora tenham provocado redução na renda, garantiram emprego para mais de 90 mil trabalhadores.
Crise no mundo - O impacto da crise econômica sobre os mais de 20 milhões de trabalhadores do setor financeiro também é tema de discussão na Organização Mundial do Trabalho (OIT). Mais de 100 representantes de governos e organizações de patrões e empregados debateram, até quarta-feira 25, em Genebra (Suíça), o aumento nas demissões no sistema financeiro, no mundo, nos últimos meses.
O objetivo da OIT é discutir medidas de ajuda aos trabalhadores demitidos, como a concessão de benefícios desemprego e a eficiência nas políticas de proteção social e dos programas de recolocação profissional.
De acordo com relatório divulgado recentemente pela organização, as instituições financeiras foram um dos setores mais afetados pela crise econômica internacional. Entre agosto de 2007, quando começou a crise no mercado imobiliário norte-americano, até este mês, 325 mil profissionais do setor foram dispensados em todo o mundo.
Para a OIT, o número de demissões deve aumentar ainda mais nos próximos meses, por causa da recessão nos países desenvolvidos e do fato de que o sistema financeiro está no epicentro da crise.
Setor financeiro – É definido pela OIT como o composto pelos trabalhadores de bancos, seguradoras e outros intermediários, como administradores de fundos de investimento e conselheiros financeiros.
O SINAIT entende que acordos são necessários para a manutenção dos empregos. Mas os trabalhadores não devem pagar pela crise, perdendo seus cargos. Dividir responsabilidades entre empregado e empregador, principalmente os que recebem ajuda financeira do governo, é extremamente complicado e até imoral mesmo se lembrarmos que até hoje, apesar da legislação existente, pouquíssimos são os empregadores que topam dar aos empregados participação na administração e nos lucros de suas empresas, mas estão sempre dispostos a dividir, senão repassar inteiramente, os prejuízos, muitas vezes resultantes de má gestão.
Nesse momento, toda a atenção é pouca para não permitir retrocessos, pois existem os "plantonistas" sempre em busca de lançar mão de qualquer desculpa para justificar redução de direitos sociais, nesse caso, direitos dos trabalhadores.
Informações completas, sobre estes dois assuntos, nas matérias abaixo
Valor Econômico 26/02/2009
Acordos de redução de jornada afetam 90 mil
Cibelle Bouças, Sérgio Bueno, Vanessa Jurgenfeld, Marli Lima, César Felício e Carolina Mandl, de São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte e Recife
O mercado de trabalho apresentou em fevereiro um aumento significativo de trabalhadores demitidos em massa ou que tiveram a sua renda reduzida em troca da manutenção do emprego, embora no setor automotivo empresas tenham começado a rever acordos.
Cálculo do Valor, que leva em consideração os anúncios feitos por empresas e sindicatos, revela que o número de trabalhadores que tiveram a sua renda reduzida em função de acordos de redução de jornada e salário, licença ou suspensão temporária dos contratos praticamente triplicou em fevereiro, totalizando 90.163 pessoas, contra 31.553 em janeiro. Em dezembro, o número de atingidos ficou em 2.020, se for considerado que os 32 mil envolvidos acordos de redução de jornada não tiveram o salário reduzido. Além dos setores que sofrem os efeitos do agravamento da crise internacional desde o fim de 2008, também fizeram acordos empresas dos setores agrícola, de alimentação, borracha e aviação.
O total de demissões em massa (considerando os cortes de pelo menos 100 pessoas por empresa) também aumentou, totalizando 9.454 até o momento, contra 6.791 em janeiro. Os cortes envolvem empresas de grande porte e que fazem parte de uma longa cadeia produtiva, como Embraer, AGCO, Dana e Nilza e todas informaram em comunicados que, em função da queda nas vendas, também fariam ajustes em suas encomendas.
A maioria dos sindicatos consultados considera positivos os resultados de fevereiro, pois os acordos, embora tenham provocado redução na renda, garantiram emprego para mais de 90 mil trabalhadores. Além disso, nos setores automotivo e de autopeças, dez empresas decidiram encurtar o prazo das férias coletivas ou das licenças, definidas em acordo, devido à melhora nas vendas de veículos até fevereiro. Os riscos de novas demissões no médio prazo, justamente em função desses cortes na renda e na produção, porém, ainda preocupam os sindicalistas.
"Estamos enfrentando uma crise de confiança e ainda é difícil dizer até onde irá o problema", avalia o diretor da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, Jairo Carneiro. Ele calcula que há mais de 20 empresas do setor metal-mecânico negociando acordos como redução de jornada com e sem corte de salários, programas de demissão voluntária e suspensão de contratos de trabalho - agora principalmente com empresas de médio porte. Desde outubro, 3,5 mil dos 200 mil metalúrgicos gaúchos perderam o emprego.
Algumas empresas, porém, mudaram a estratégia em fevereiro. Foi o caso da John Deere, que em janeiro anunciou a demissão de 502 funcionários em Horizontina e, após negociar com o sindicato, decidiu oferecer um programa de demissão voluntária aos 1.650 empregados remanescentes da unidade para substituir pelo menos em parte dos demitidos. A Zamprogna, fabricante de tubos, perfis e chapas de aço adquirida pela Usiminas, também concordou em abrir um programa de demissões para afastar 241 funcionários. A Guerra, que produz reboques e semi-reboques rodoviários também decidiu antecipar 10 dias das férias coletivas de 1.800 funcionários.
Os acordos fechados no Rio Grande do Sul incluíram a redução de jornada em empresas como Randon (implementos rodoviários e autopeças), Marcopolo (ônibus), MWM International (motores) e GKN (autopeças). Na semana passada, a Gerdau também fechou acordo para suspensão do contrato de trabalho em três unidades.
No Paraná, no ABC Paulista e em Minas Gerais, as montadoras e empresas de autopeças também optaram por acordos que garantissem o emprego. Em função da melhora nas vendas de veículos, no mês, a Ford suspendeu férias coletivas de 350 em Taubaté; a Volkswagen renovou os contratos de 106 temporários em São Bernardo do Campo; a Renault cancelou a suspensão de contratos de 500 funcionários e a Fiat com as 14 empresas de autopeças de Betim fez um acordo garantindo estabilidade dos empregados até 10 de março.
Para os sindicatos, porém, as decisões das montadoras não são suficientes para projetar um fim breve para a crise no emprego. No Paraná, enquanto a Renault prepara-se para reconvocar os empregados, a Volvo voltou a dar férias coletivas a 1 mil trabalhadores para ajustar a produção de caminhões e motores e criou um banco de horas, para compensação até dezembro de 2010. No fim de 2008, a Volvo demitiu 430 empregados da fábrica de Curitiba (PR), cortou turnos de produção e deu férias coletivas.
Em São Paulo, os acordos de redução de jornada com redução de salários também se multiplicaram, totalizando 20 acordos que envolveram 10,7 mil trabalhadores, segundo levantamento do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes. Em janeiro, o sindicato concluiu acordos com quatro empresas, que atingiram 5,6 mil trabalhadores. Para o presidente do sindicato, Miguel Torres, a melhora nas vendas de veículos anima, mas não é suficiente para reverter o cenário atual. "A crise no setor automotivo começou em outubro e demorou para chegar onde chegou. A retomada não vai ser rápida", avalia. Conforme Torres, o número de empresas solicitando acordos para reduzir jornada e salários ainda supera 120 e cresce o número de empresas de autopeças de pequeno porte, com menos de 150 funcionários.
No ABC, a redução das férias coletivas pelas montadoras animou empresas como a de autopeças Fiamm e a Prensas Schuler a também rever suas decisões - a primeira cancelou a redução de jornada de trabalho e a última, substituiu a demissão de 180 por um programa de demissões voluntária. "Houve recuperação nas vendas das montadoras, que voltaram a encomendar autopeças. Mas é preciso que haja melhora nas vendas de caminhões e nas exportações para que se confirme a reversão definitiva do cenário", afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre.
Em Minas Gerais, a reversão também é lenda. "Há sinais de retomada da produção [da Fiat], o que reforça a posição nossa de não aceitarmos a flexibilização dos contratos", comentou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Marcelino da Rocha. Além do acordo de estabilidade fechado entre o sindicato, a Fiat e 14 empresas de autopeças, a Proteco (que também fornece à Fiat) substituiu uma proposta de licença remunerada por férias coletivas.
Em Santa Catarina, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Joinville, Genivaldo Ferreira, dos 18 mil trabalhadores que o sindicato representa, 12 mil fizeram acordos de férias coletivas ou redução de jornada. No setor plástico da cidade, dos 20 mil trabalhadores, 5 mil foram diretamente afetados ou por demissão ou por licença remunerada.
Na indústria de cerâmica de Campo Largo (PR), também houve melhora nas vendas em fevereiro e as negociações de redução de jornada foram canceladas, segundo o o presidente do sindicato dos trabalhadores do município, Paulo Andrade.
OIT discute impacto da crise sobre demissões no setor financeiro
24/02/2009
O impacto da crise econômica sobre os mais de 20 milhões de trabalhadores do setor financeiro é tema de discussão na Organização Mundial do Trabalho (OIT). Até quarta-feira (25), mais de 100 representantes de governos e organizações de patrões e empregados debatem, em Genebra (Suíça), o aumento nas demissões no sistema financeiro nos últimos meses.
De acordo com relatório divulgado recentemente pela OIT, as instituições financeiras foram um dos setores mais afetados pela crise econômica internacional. Entre agosto de 2007, quando começou a crise no mercado imobiliário norte-americano, até este mês, 325 mil profissionais do setor foram dispensados em todo o mundo.
O ritmo de demissões intensificou-se desde o final do ano passado, quando a crise se agravou. Segundo a OIT, 130 mil trabalhadores da área financeira perderam o emprego de outubro para cá, o que representa cerca de 40% do total de dispensas anunciadas nos últimos 18 meses.
Para a organização, o número de demissões deve aumentar ainda mais nos próximos meses, por causa da recessão nos países desenvolvidos e do fato de que o sistema financeiro está no epicentro da crise.
No encontro, serão discutidas medidas de ajuda aos trabalhadores demitidos, como a concessão de benefícios desemprego e a eficiência nas políticas de proteção social e dos programas de recolocação profissional.
A OIT define o setor financeiro como o composto pelos trabalhadores de bancos, seguradoras e outros intermediários, como administradores de fundos de investimento e conselheiros financeiros.
COLAPSO SOCIAL: os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a crise na economia são de arrasar. Na hipótese mais otimista, o mundo terá até o final de 2009, cerca de 18 milhões de desempregados. O cenário mais realista estima que 30 milhões de pessoas perderão os seus empregos. Finalmente, se a recessão continuar a se aprofundar, teremos 51 milhões de desempregados. Juan Somavia, o diretor–geral da OIT anunciou esses trágicos números em 28 de janeiro na Suíça. Segundo ele, a crise é acompanhada de um enfraquecimento geral da classe média.
QUANTO CUSTA A CRISE? Todos os países fazem um grande esforço para debelar a crise que começou na maior economia do mundo e se espalha por todos os continentes. Quem está pagando pela crise são os trabalhadores, que perdem seus empregos. Eles e o resto, pagam também em forma de auxílios governamentais, oferecidos aos bancos e às grandes empresas. O governo na Inglaterra calcula que até agora, somadas todas as ajudas governamentais, o socorro pode chegar a nada menos do que sete trilhões de dólares. A informação circulou no Fórum Econômico de Davos (Suíça) e, depois disso, o FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou que ainda serão necessários mais 500 bilhões de dólares.