26-3-2009 – SINAIT
Crises desencadeiam conseqüências em cascata. Cada setor diretamente afetado gera reflexos em outros, e muitas variáveis compõem o quadro. A onda de demissões em montadoras de automóveis e indústrias ligadas ao setor está causando insegurança e aumentando o índice de adoecimento e acidentes entre os trabalhadores. Depoimentos de trabalhadores e sindicalistas revelam os níveis de stress a que estão submetidos os empregados cujas empresas já demitiram funcionários.
A Organização Internacional do Trabalho – OIT defende a promoção de 90 milhões de empregos nos próximos anos para vencer a crise mundial e os postos de trabalho devem obedecer aos princípios do trabalho decente. Ao mesmo tempo, o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas – Dieese, afirma que apenas metade das demissões ocorridas no Brasil a partir de novembro/2008 são decorrentes da crise. A outra metade deve ser creditada a uma situação que já está se tornando rotineira que é a demissão de trabalhadores a cada fim de ano, contribuindo para aumentar a rotatividade da mão-de-obra. Para o Dieese, esta atitude demonstra falta de compromisso dos empregadores com o mercado de trabalho no Brasil.
Veja nas matérias seguintes informações sobre os reflexos da crise sobre os trabalhadores e as considerações da OIT e do Dieese.
26-3-2009 – Instituto Observatório Social / ABCD Maior
Pressionados, trabalhadores ficam mais sujeitos aos riscos de acidentes
Muitas empresas do ABCD que optaram por reduzir o quadro de profissionais como solução para a queda na produção, motivada pelos impactos da crise financeira mundial no País, estão enfrentando outro problema. É o clima de insegurança que afeta, principalmente, trabalhadores da cadeia do setor automobilístico, um dos mais afetados.
"Já vi amigo meu chorando no banheiro com medo de ser demitido. A gente trabalha sem saber se vai voltar amanhã", contou o montador M. da Autometal, que não quis se identificar.
Depois da demissão de 30 funcionários em janeiro o clima na fábrica piorou. "A preocupação mexia com a cabeça dos trabalhadores. Eles não se alimentavam bem e tinham até insônia", conta o diretor do CSE (Comitê Sindical de Empresa) da Autometal, Marcos Augusto Nunes de Oliveira, o Bigode.
O caso da Autometal não é isolado e as notícias da conjuntura econômica ao redor do mundo potencializam a aversão ao fantasma do desemprego. O psicólogo do trabalho, Bernardo Svartmam, explica que o impacto sobre a saúde das pessoas é muito grande numa situação de crise. "A ameaça de perder o emprego desestrutura o projeto de vida da pessoa. Aumenta muito o nível de stress, distúrbio do sono, ansiedade e até depressão."
Acidentes
Na semana passada a unidade de Santo André da TRW anunciou a demissão de 55 trabalhadores. O anúncio deixou apreensivos outros 600 profissionais.
Outra fábrica da TRW, em Diadema, passou recentemente por experiência semelhante após anúncio de 86 demissões. O coordenador da regional do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na cidade, José David Lima Carvalho, afirma que junto com o anúncio veio a queda na produtividade dos trabalhadores. "Além disso, o índice de pequenos acidentes aumentou", aponta.
Durante o ano de 2007, foram registrados no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) cerca de 653,1 mil acidentes de trabalho no Brasil. Se comparado com 2006, o número de acidentes aumentou 27,5%. O médico do trabalho, Théo Oliveira, que atua no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, diz que os problemas psicológicos não afetam significativamente o setor, mas há dificuldades, especialmente quando o lançamento de um produto não atende à expectativa de vendas, situação fora do controle dos trabalhadores. "Isso tem trazido um aumento do estresse e outras preocupações. Por isso aumentou o uso de calmante e uso de antidepressivos por causa do nervosismo."
Fonte: ABCD Maior
26-3-2009 – Instituto Observatório Social / ONU
Mundo precisará de 90 milhões de empregos contra crise
O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho, OIT, Juan Somavia, pediu a criação de um pacto global para enfrentar o que descreveu de crise prolongada e severa. Ele afirmou que o problema deverá gerar um aumento maciço da taxa de desemprego e pobreza. Somavia apresentou, na terça-feira (24), o lançamento do relatório "Crise Financeira e Econômica: Trabalho Decente como Resposta".
Novas Entradas
Segundo o documento, serão necessários 90 milhões de novos empregos, nos próximos dois anos, para absorver novas entradas no mercado de trabalho.
Em crises anteriores, a recuperação do mercado trabalhista só se deu após, pelo menos, quatro anos. A OIT revela que os países africanos serão afetados pela queda dos preços das matérias primas, redução de investimentos estrangeiros diretos e fluxos de capitais privados.
Já na América Latina, o preço de mercadorias como petróleo e outras commodities também deve se reduzir devido à recessão.
A possibilidade de queda no preço de metais como zinco e chumbo podem afetar países como Brasil, África do Sul e Austrália.
Fonte: ONU
26-3-2009 – DIAP / Monitor Mercantil
Crise responde por apenas metade desse aumento no desemprego, diz Dieese
"Outra metade tem a ver com o que está se tornando tradicional no País: as demissões de final de ano. Elas ajudam o País a manter uma taxa de rotatividade da mão-de-obra de aproximadamente um terço, índice alto em qualquer país do mundo", disse
Cerca de 750 mil empregos formais já foram destruídos entre novembro de 2008 e fevereiro, ou queda de 2,3% do emprego com carteira do período, segundo o Dieese. Para o economista Paulo Jager, do Dieese, porém, a crise responde por apenas metade desse aumento no desemprego.
"Outra metade tem a ver com o que está se tornando tradicional no País: as demissões de final de ano. Elas ajudam o país a manter uma taxa de rotatividade da mão-de-obra de aproximadamente um terço, índice alto em qualquer país do mundo", disse.
Ressalvando que isso não ocorre em todos os setores, Jager explica que uma taxa de rotatividade nesse nível significa que, a cada três anos, 100% da mão-de-obra troca de emprego no país. "É um mito a alegada dificuldade para demitir trabalhadores no Brasil", afirma.
Ele disse ser natural que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em virtude do cargo, exiba certo otimismo em relação à geração de emprego no futuro, mas acha precipitado fazer qualquer previsão, por causa do clima de incerteza.
"Não temos dados indicando que já superamos os problemas. Tomara que o ministro tenha informações que apontem para isso. O País precisa ter compromisso com a melhora do mercado de trabalho, pois temos muitos problemas, como informalidade e essa taxa altíssima de rotatividade da mão-de-obra", afirmou. (Fonte: Monitor Mercantil, no blog O outro lado da notícia)