Funcionalismo está insatisfeito


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
03/03/2009



Como os demais colegas da PF os AFTs também convivem com o perigo e a insatisfação


O SINAIT divulga abaixo matéria do Correio Braziliense, desta segunda-feira 2, que aborda a insatisfação do funcionalismo público por causa da falta de estímulo à profissão. De acordo com a matéria a insatisfação revela que boa remuneração não se traduz em felicidade e confirma a máxima de que “dinheiro não é tudo”.


Um professor de psicologia social e do trabalho da Universidade de Brasília, explica que a frustração e o sentimento de derrota dos servidores estão associados ao fato de que raramente o esforço diário se traduz em algo concreto, bem diferente do que acontece na iniciativa privada.


De acordo com a notícia, apesar das tentativas do governo de promover aumento de salários e implementação de novas medidas de gestão em setores como o executivo, a insatisfação continua.


Entre os AFTS, é notável o paradoxo. Enquanto responsáveis pela verificação das leis trabalhistas e das condições de saúde e segurança de trabalho de milhares de cidadãos brasileiros, não são dadas a esta categoria as condições satisfatórias de trabalho. Muitas vezes, os AFTs enfrentam dificuldades para desenvolver suas atividades, devido à falta de equipamentos mais modernos, utilizam transportes com problemas mecânicos, em muitas SRTEs a estrutura física é inadequada e, ainda, a necessidade de equipamentos suficientes para a  monitoração de ações em locais ermos.


Matéria de hoje 3, também do Correio, revela que a Polícia Federal é uma das instituições com grande número de servidores insatisfeitos. Para tentar reverter este quadro projeto com a proposta de nova lei orgânica está sendo concluído pelo Ministério da Justiça para ser enviado ao Congresso. A versão final do texto não altera a atual estrutura funcional da PF, mas prevê a criação de mecanismos para tentar reduzir a evasão de recém-aprovados em concursos a exemplo de uma permanência mínima sugerida em 3 anos no cargo, do contrário o servidor fica sob pena de ter que pagar as despesas com o curso preparatório na Academia Nacional de Polícia.


O SINAIT entende que adotar medidas para conter a evasão dos recém-nomeados é muito importante. Mas, a saída seria o governo oferecer condições dignas para quem estudou e se sacrificou para passar e assumir o emprego público, ao invés de estabelecer penalidades dessa natureza.


Saiba mais sobre este assunto nas três matérias abaixo publicadas pelo Correio.


 


Publicação: 02/03/2009 08:


Cresce insatisfação no funcionalismo público


Luciano Pires - Correio Braziliense  


 


Ao mesmo tempo em que discute melhorias gerenciais e traça metas para profissionalizar a máquina pública, o Estado convive com bolhas de insatisfação espalhadas pelo funcionalismo. Esse fenômeno não é novo, mas com o avanço no número de contratações ganha mais evidência. A raiz do problema, alertam os especialistas, está na forma de seleção e na baixa capacidade que a burocracia tem de transferir valor às tarefas executadas pelo servidor.


Como mostrou o Correio na edição de ontem, o nível de descontentamento é grande na Polícia Federal. Na pesquisa inédita realizada por meio da rede interna de computadores da PF, 57,8% dos delegados, peritos, papiloscopistas, escrivães, agentes e pessoal administrativo responderam que pretendem deixar a carreira na primeira oportunidade que tiverem. Por ser uma espécie de Olimpo do setor público, onde bons salários e status são marcas registradas, a taxa surpreende.


Wanderley Codo, professor de psicologia social e do trabalho da Universidade de Brasília, explica que a frustração e o sentimento de derrota dos servidores estão associados ao fato de que raramente o esforço diário se traduz em algo concreto. Diferentemente do que ocorre na iniciativa privada, os processos e o excesso de regras fazem com que o servidor se sinta “apenas mais um”. “Há no setor público grande ausência de vínculo com o produto. Às vezes, o salário e outras queixas viram apenas desculpas, uma forma de resumir as coisas para justificar outras insatisfações”, completa.


 


Reivindicações


Desde 2008, o Executivo vem sendo alvo de modificações. O governo baixou medidas aumentando a remuneração de quase todo o quadro, alterou a estrutura de muitas carreiras, implementou novas ferramentas de gestão com foco no desempenho e introduziu conceitos que dão maior previsibilidade funcional aos atuais e futuros servidores. Essa pequena revolução, no entanto, não tem sido capaz de amenizar os dramas.


Os advogados públicos são um exemplo disso. Responsáveis por defender os interesses da União, ingressam com contracheque de R$ 14 mil. “As mudanças na remuneração reduziram o índice de evasão”, reconhece Rogério Vieira Rodrigues, presidente da União dos Advogados Públicos Federais do Brasil (Unafe). Mas como dinheiro não é tudo, há reivindicações por melhores condições de trabalho e contra a fórmula de progressão na carreira introduzida recentemente.


Juliana Barral, mestre em administração pública, adverte que boa remuneração não se traduz em felicidade. “Esse é o primeiro engano do candidato e da própria organização”, diz. Segundo ela, do ponto de vista estrutural, ainda há muito o que se avançar no Brasil. Recrutar e formar melhor a mão-de-obra seria um bom começo. “Se a pessoa não consegue ver o resultado do que faz, ela trabalha para quê? A organização precisa dar desafios ao profissional, estimulá-lo sempre”, reforça.


 


03-03-2009 Correio Braziliense


 


FUNCIONALISMO


Mais cacique do que índio


Na PF número de chefe supera o de subordinado. Dados do departamento de pessoal da instituição mostram que estão em atividade 1.761 delegados ante 1.688 escrivães


Leonel Rocha


Na Polícia Federal, os subordinados são minoria. Segundo os últimos dados do departamento de pessoal, estão em atividade 1.761 delegados, considerados os chefes das delegacias pela atual legislação, e somente 1.688 escrivães, função que, na prática, é de auxiliar. O padrão mundial para esse setor mostra que a relação ideal é de um chefe para cada três auxiliares. No caso dos agentes, a proporção é ainda maior. Enquanto que nas polícias de países do Primeiro Mundo existe um delegado para cada grupo de 10 agentes, no Brasil essa relação é de um paraquatro. O inchaço de delegados na PF começou em 1999, quando um projeto de carreira unificada começou a ser debatido e as diretorias decidiram abrir mais vagas para delegados que para outras funções.


Para dar trabalho a tantos delegados, funções como dirigentes do Instituto de Criminalística, típicas de peritos, são ocupadas por delegados. O mesmo ocorre com o setor de operações, mais adequado a um agente experiente, mas hoje também ocupado por delegado. O desequilíbrio entre o número de delegados e de outras categorias dentro da PF incentiva a guerra entre os cinco cargos da carreira policial. Um dos sintomas é a demanda reprimida por laudos periciais à espera de conclusão. No ano passado, a então direção da PF tinha programado dois concursos para escolher 400 delegados e um número igual de escrivães. Mas reduziu o número de vagas para a segunda categoria.


Um projeto com a proposta de nova lei orgânica está sendo concluído pelo Ministério da Justiça para ser enviado ao Congresso. A versão final do texto não altera a atual estrutura funcional da PF. Prevê a criação de mecanismos para tentar reduzir a evasão de recém-aprovados em concursos. A ideia da direção da PF é passar a exigir dos aprovados nos concursos da instituição uma permanência mínima no cargo, sob pena de ter que pagar as despesas com o curso preparatório na Academia Nacional de Polícia. O prazo mínimo não foi definido, mas não será inferior a três anos.


O prazo de carência no cargo para que o aprovado no concurso deixe o setor público é um dos dispositivos em estudo para evitar o elevado índice de evasão de agentes, papiloscopistas, escrivães, delegados e peritos. A mesma exigência é feita pelas Forças Armadas que obrigam o aluno recém-formado nas academias militares de nível superior a ficar um tempo mínimo na tropa. “Quando entrar na academia, ou o novo servidor fica um tempo mínimo ou, se sair, paga o curso feito”, avisa o diretor- geral da PF, delegado Luiz Fernando Corrêa.


No mesmo projeto, Corrêa pretende incluir uma norma permanente para que todos os concursados tenham, obrigatoriamente, que começar a carreira nas fronteiras e na Amazônia onde passarão, no mínimo, três anos. Segundo ele, esse é mais um instrumento a ser criado para detectar quem tem vocação para a profissão, evitando elevados índices de evasão. “Quem não tiver vocação não vai suportar o trabalho duro na Amazônia ou na fronteira. Quem permanecer, será um policial rústico e intelectualmente preparado”, espera Corrêa. Hoje a exigência de iniciar o trabalho pela Amazônia e nas fronteiras já existe, mas em editais que podem ser alterados a cada concurso. A intenção é colocar o dispositivo na lei.


Administrativos


Outro foco da crise na PF é a massa de servidores do quadro administrativo, do chamado Plano Especial de Cargos. Composto em boa parte por funcionários com nível superior, essa categoria também enfrenta o desânimo diante da impossibilidade de fazer carreira na instituição. “A dificuldade é a falta de uma política de recursos humanos que valorize a categoria no longo prazo”, denuncia a presidente do Sindicato Nacional dos Servidores do Plano Especial de Cargos da PF, Hélia Cassemiro.


Com salários brutos que variam entre R$ 2,8 mil e R$ 4,1 mil mensais, a categoria é formada por administradores, arquitetos, arquivistas, assistentes sociais, contabilistas, economistas, enfermeiros, engenheiros, estatísticos, médicos e psicólogos, além dos servidores de nível médio que atuam como agentes administrativos, de comunicação social e de telecomunicações, desenhistas entre outros. Em 2008, houve uma evasão de 60% logo depois do concurso realizado pela PF, segundo direção da instituição. O objetivo da PF era substituir os terceirizados, mas a fuga logo depois do concurso impediu a alteração


 


01-03-2009 Correio Braziliense   


Apenas 24% dos funcionários da PF estão satisfeitos com o cargo


Leonel Rocha


Uma pesquisa realizada entre os funcionários da Polícia Federal (PF), concluída em dezembro, revelou um risco para a sociedade: o desinteresse desses servidores pela profissão. Feita pela rede interna de computadores da instituição e sem a identificação do pesquisado ou de sua função, a enquete obtida com exclusividade pelo Correio mostra que 57,8% dos delegados, peritos, papiloscopistas, escrivães, agentes e pessoal administrativo pretendem deixar a carreira na primeira oportunidade. A amostra atingiu mais de 3,7 mil pessoas e constatou que a grande massa — 52,95% — aguarda ansiosa para fazer concurso em outra área da carreira pública. Além disso, 4,86% dos funcionários sonham com uma chance melhor até no setor privado.


Mesmo classificado no topo da lista de cargos estatais, com bons salários, estabilidade no emprego e prestígio por serem considerados carreira imprescindível ao funcionamento do Estado, o ofício de policial federal não encanta mais. Pouco mais da metade dos 14,4 mil servidores da PF almeja uma nova profissão, de preferência bem longe das delegacias. Somente 24,14% dos pesquisados estão inteiramente satisfeitos com a carreira e pretendem continuar nela até a aposentadoria. Outros 18% permaneceriam na policia, só que em cargo distinto (veja tabela). “A questão é a vocação. A pesquisa mostra que há pessoas em trânsito na Polícia, se preparando para fazer concursos para juiz ou promotor. Elas têm um outro sonho, mas ficam aproveitando o bom salário”, admite o diretor geral da PF.


De 2004 até o fim do ano passado, a polícia realizou dois concursos para agentes, um nacional e outro regional. Nesse período treinou na Academia Nacional de Polícia 1.866 pessoas. Desse grupo, 471 pediram exoneração nos últimos quatro anos, deixando abertas 25,2% das vagas que deveriam estar inteiramente ocupadas. Fenômeno parecido aconteceu com os escrivães, só que em proporção muito maior. Nos últimos quatro anos a PF abriu 705 vagas para a função, mas 411 profissionais dessa área desistiram da profissão logo depois do curso e de trabalhar pouco tempo. Representaram 58,2 % de desistência.


É um exército de servidores treinado em uma das melhores escolas de polícia da América Latina que troca a PF por outra função pública ou pelo setor privado. “A PF evoluiu em termos de salário, é uma instituição respeitável e tem um trabalho gratificante, mas também atraiu o profissional de concurso em razão do elevado nível de escolaridade exigido nos exames. Não posso ter 50% em trânsito na Policia, o cidadão não merece isso”, reconhece o diretor geral, Luiz Fernando Corrêa.


Mudança


Um dos descontentes com o trabalho na PF é o escrivão Flávio Werneck. Aos 33 anos e na polícia há mais de sete, o advogado conseguiu ser transferido para a assessoria do Ministério da Justiça. Está se preparando para fazer concurso para promotor público. Se passar, vai ganhar o dobro do que recebe hoje. “Tenho capacitação e conhecimento jurídico, mas não utilizo no meu trabalho. Entrei na polícia com garra e esperando ajudar a fazer um País melhor, mas com o tempo fui perdendo o interesse porque fui assumindo atribuições menores”, lamenta Werneck.


Outra parte da enquete mostra quadro preocupante. Mais de 42 % dos policiais e agentes administrativos classificam o trabalho da Corregedoria da instituição “incompleto, com caráter apenas disciplinar e pouco correicional”. Outros 30% apontam o setor como ineficiente e sem efeitos disciplinares. Mais de 14,2% definem a Corregedoria como “deficitária” (veja tabela). Segundo Corrêa, uma outra pesquisa interna foi realizada pela CNT/Sensus mas ainda não concluída mostrou que 70% do efetivo da PF estão satisfeitos com o emprego, mas o diretor não divulgou o conteúdo integral do levantamento.


Quem consegue ser aprovado no rigoroso concurso para agente, por exemplo, começa a trabalhar com salário inicial de R$ 8 mil mensais. No final da carreira poderá ganhar até R$ 13,5 mil, mais do que fatura alguns níveis da carreira diplomática, e sem a necessidade de ser poliglota. O caso dos delegados é ainda mais confortável.


Nesse cargo os rendimentos começam com R$ 9 mil e no final da carreira chegam a R$ 19 mil mensais. Ganhos maiores do que recebe um ministro de Estado, que tem vencimento de R$ 12 mil. Com soldos mais modestos, o servidor administrativo da PF recebe próximo de R$ 4 mil. Nada mal para quem não precisou ter cursado universidade e passa a ter estabilidade e salário médio acima do pago no setor privado ou em outras áreas estatais.


Troca por outro emprego


A PF é uma instituição cara e responsável pela apuração dos crimes federais. O orçamento de 2008 foi de R$ 3,6 bilhões, o mesmo previsto para este ano. Só em custeio foram gastos R$ 350 milhões no ano passado.


Mesmo com o reforço no caixa e uma autorização do Ministério do Planejamento para preencher 3 mil vagas nos setores administrativos, a direção da instituição não iniciou a seleção. Teme a repetição de um fenômeno que ocorreu entre 2004 e 2005, quando 60% dos servidores aprovados no concurso e contratados para substituir os funcionários temporários pediram exoneração porque tinham optado por outros empregos.


Dos 14 mil policiais, 350 são mestres, doutores e até pós-doutores. Esse grupo, formado majoritariamente por peritos, compõe uma massa crítica que aumenta o nível de questionamento das ações administrativas da instituição.


Além disso, os contratados pela polícia fazem comparações com os colegas de outros segmentos públicos e descobrem que, com a mesma escolaridade, podem ganhar um pouco mais, trabalhar em áreas onde não é preciso dar plantão, trabalhar de madrugada, perseguir traficante perigoso ou investigar poderosos.

Categorias


Versão para impressão




Assine nossa lista de transmissão para receber notícias de interesse da categoria.