Por Solange Nunes
Edição: Nilza Murari
Em ato público, autoridades e sindicalistas pedem a prisão dos mandantes da Chacina de Unaí. A data marca 15 anos do assassinato dos três Auditores-Fiscais do Trabalho Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e do motorista Ailton Pereira de Oliveira. O protesto ocorreu em frente ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região – TRF1, nesta segunda-feira, 28 de janeiro, em Brasília (DF). O mesmo Tribunal que, há 70 dias, em 19 de novembro de 2018, anulou o julgamento do condenado e mandante do crime Antério Mânica e reduziu as penas de Noberto Mânica – também mandante –, e dos intermediários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro.
As autoridades e sindicalistas fortaleceram os gritos de protesto do SINAIT e pediram a prisão dos mandantes, questionando a anulação do julgamento. Para Carlos Calazans, ex-delegado regional do Trabalho na ocasião do assassinato dos Auditores-Fiscais do Trabalho, a situação é infame.
“Não podemos permitir esta infâmia. A história da civilização foi construída sobre uma infâmia que se repete com esta decisão. Os 300 anos de escravidão parece que não acabaram. Um fiscal negro foi assassinado. Eu, negro, era delegado do trabalho. O poder econômico matou estas pessoas e a justiça precisa ser feita”, disse Calazans.
Apesar do retrocesso da decisão, Calazans disse que a situação não ficará impune. “Vamos continuar lutando por justiça, não vamos desistir nunca”.
Floriano Martins de Sá Neto, presidente da Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal – Anfip, disse que a Associação não vai esquecer esta tragédia. “Pode fazer dez, 15 anos, não iremos esquecer até que se cumpra a justiça. Quero aproveitar para deixar a mais profunda solidariedade à família, que efetivamente é a que mais sofre com esta situação”. Enfatizou ainda que a Anfip está junto com o SINAIT nesta luta e pretende resistir até que se faça justiça.
Sérgio Voltolini, presidente da Confederação Iberoamericana de Inspetores do Trabalho – CIIT, reafirmou a solidariedade e parceria com o Sinait. “Conheço e participo desta luta. Vamos continuar resistindo”. Ele lembrou que os mandantes continuam soltos. “É um crime contra o Estado e a sociedade. A justiça precisa ser feita”.
Edson Haubert, presidente do Movimento Nacional dos Servidores Públicos Aposentados e Pensionistas – Instituto Mosap, ponderou que este dia 28 de janeiro é de grande reflexão. questionou a situação com a frase “catilinárias” de Cícero, senador romano: “até quando abusarás da nossa paciência?”.
Ele parafraseou “catilinárias” para dizer que as autoridades, os poderes constituídos, o grande capital, as grandes empresas, não têm o menor compromisso com a pessoa humana. “É lucro e produção e o mais não importa. É o que significa a Chacina de Unaí. Até quando este poder mundial desconsiderará as pessoas e os trabalhadores?”.
Elianildo Nascimento, representante do subsecretário de Direitos Humanos do Distrito Federal, Juvenal Araújo, falou da importância da data, dia 28 de janeiro, Chacina de Unaí para todos. “É uma data de extrema tristeza e indignação pela morte destes representantes do Estado. Além de marcar um desrespeito à Justiça”.
Nascimento destacou que a situação reflete o processo atual anti civilizatório. “Estamos numa época que está retrocedendo ou não quer avançar, na medida em que encontramos a escravidão, protegem-se criminosos que assassinam e destroem-se vidas”.
Participaram ainda da manifestação, Alexandre Magno Fernandes Moreira, secretário adjunto de Proteção Global do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos; Dante Cassiano Viana, coordenador-geral de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Nacional de Combate ao Trabalho Escravo – Conatrae; Henrique Camargo Neves, secretário de Inspeção do Trabalho substituto; os advogados Felipe Teixeira e Roberto Franciscon, do Escritório Farag Advogados; Maurício Krepsky, da Detrae, João Paulo Ferreira Machado, do eSocial e as agentes administrativas Alda Queiroz, Ivanda Rosa e Maria de Fátima Simões, entre outros.