25 Anos do Grupo Móvel – Cordel registra aspectos dessa trajetória e papel central dos Auditores-Fiscais do Trabalho


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
15/05/2020



Escrita pelo cordelista Allan Sales, publicação é parte de conjunto de ações para disseminar informações sobre o Grupo e o combate ao trabalho escravo no Brasil

Por Dâmares Vaz


Edição: Nilza Murari


A criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel – GEFM em 1995 foi um marco no combate ao trabalho escravo no Brasil e trouxe reconhecimento internacional ao esforço nacional de enfrentamento dessa forma tão cruel de violação dos direitos humanos.


Os 25 anos de atuação do Grupo Móvel estão intrinsecamente ligados à totalidade das políticas públicas contra o tráfico e escravização de pessoas. Registrar e disseminar todas as informações dessa trajetória são formas de preservar os avanços civilizatórios alcançados pelo País.


Ciente da importância dessa informação chegar à sociedade, o SINAIT vem buscando maneiras de contar a história do Grupo Móvel e do combate ao trabalho degradante, na qual os Auditores-Fiscais do Trabalho tiveram, desde o início, papel central.


 Assim, apresenta o cordel “Fomos nós mão redentora nestes 25 anos!”, escrito pelo músico, compositor e poeta pernambucano Allan Sales.


 Confira:


 


Fomos nós mão redentora nestes 25 anos!


 


I


Já faz vinte e cinco anos


Que essa história aconteceu


José um desempregado


Lavrador que conheceu


Numa cidade pequena


Onde se passa essa cena


E tudo o que sucedeu


 


II


Quando lá apareceu


Um tal de contratador


Procurando mão-de-obra


De cabra trabalhador


Pra assim fazer serviço


E firmar um compromisso


E ganhar algum valor


 


III


Era ele agricultor


Mas terra não possuía


Só trabalhos temporários


Vez em quando é que havia


E assim foi contratado


Trabalhar em outro estado


E assim ele seguia


 


IV


O cabra lhe prometia


A boa situação


Pediu os seus documentos


Pra fazer contratação


Mas depois não devolvendo


Os documentos retendo


Abuso sim, cidadão


 


V


Segue na estrada então


E depois nas vicinais


E chegou numa fazenda


Ali em Minas Gerais


Pra plantar muito feijão


Ficar de calos nas mãos


E cuidar de animais


 


VI


Primeiro mês foi demais


Não estava acostumado


À jornada extenuante


Muito mal alimentado


Coisa pouca que comia


E a água que bebia


Era do cocho do gado


 


VII


E também foi maltratado


Por jagunços que havia


Que ficavam vigiando


Enquanto o labor seguia


Vigiando ali na roça


Davam bronca davam coça


Quem corpo mole fazia


 


VIII


O patrão assim vigia


Como antiga escravidão


Mas a parte mais cruel


Soube ele cidadão


Disseram que ele devia


Pelas coisas que comia


Era grana de montão


 


IX


Pois ali num barracão


Coisas que ele comprava


Preço alto de lascar


Muito caro assim custava


Descobriu-se devedor


O patrão o seu credor


Num ardil ali estava


 


X


Essa conta aumentava


E assim ficou cativo


Da ganância do sujeito


Escravocrata lascivo


Fosse ele então fugir


Um jagunço a perseguir


E não sairia vivo


 


XI


Um sistema opressivo


Rejeita a legislação


Escraviza este povo


Praticando enganação


Ele ali braçal obreiro


Com outros em cativeiro


Na moderna escravidão


 


XII


Mas um dia veio então


A fazenda visitada


Era um povo diferente


Com uma fala educada


Foram ali fiscalizar


In loco verificar


Coisa que estava errada


 


XIII


Toda gente entrevistada


Respondendo ao fiscal


Era um tal de Grupo Móvel


Que chegou pra dar final


No labor escravizado


E também tinha do lado


A Polícia Federal


 


XIV


Revelou ele afinal


Tudo que ali foi feito


Que devia muita grana


Que no chão era seu leito


E o irmão do asqueroso


Do patrão cabra seboso


Da cidade era o prefeito


 


XV


E assim todo malfeito


Por aí se reparou


Assinaram a carteira


E o salário assim pagou


Do estado a autoridade


Defendendo a sociedade


De quem dela abusou


 


XVI


A história se passou


De cordel qual ficção


Mas tem fundo verdadeiro


Que envergonha esta nação


O SINAIT rememora


Estes anos nesta hora


Vinte cinco na missão!!


 


 XVII


Disse Joaquim Nabuco


Ao falar da escravidão


Que ela então nos marcaria


Após sua abolição


Boa parte da história


No Brasil a trajetória


De humana exploração


 


XVIII


Fomentar exportação


Ser assim periferia


Dos grandes centros de mando


Que comandam economia


No Brasil colonial


Que aqui foi bestial


O grilhão da tirania


 


XIX


Vinte e cinco nesta via


Estes anos de missão


Todos na força tarefa


Até mais longe rincão


E mais de cinquenta mil


São libertos no Brasil


Nesta humana remissão


              


XX


Denúncia da escravidão


Um bispo aqui fazendo


Foi Dom Pedro Casadáliga


Em setenta acontecendo


Foi em plena ditadura


Uma era obscura


O mundo ficou sabendo


 


XXI


Isso nos estarrecendo


Pois de fato existia


O Brasil diante da ONU


Isso então reconhecia


Em noventa e cinco o ano


Neste ato soberano


De postura mudaria


           


XXII


Dos primeiros nesta via


País a reconhecer


A escravidão moderna


Entre nós acontecer


E pra fiscalização


No combate nesta ação


Algo novo foi fazer


        


XXIII


Foi aqui então trazer


Este Grupo Especial


De Fiscalização móvel


Foi ação primordial


Entes competentes sérios


Do trabalho ministérios


E a Polícia Federal          


         


XXIV


Veio o Auditor-Fiscal


Condições fiscalizar


De trabalhos degradantes


Que se põem a escravizar


De parte considerável


Foi o grupo responsável


Na missão de libertar


          


XXV


E se pôs a legislar


O Brasil pra coibir


Campanhas informativas


Que se pôde construir


Toda a sociedade


Ante tal iniquidade


Combater e suprimir


              


XXVI


Tendo leis para suprir


Por aqui legislação


Coibir todos abusos


Neste campo de opressão


Proposta de confiscar


Quem aqui escravizar


Ter a expropriação


              


XXVII


Proposta de prevenção


E assim não se omitir


Recomenda a OIT


Prevenção e reprimir


Esta coisa tão medonha


Que à gente envergonha


Extirpar vê-la sumir


              


XXVIII


Tal projeto imprimir


Lista Suja então criar


De empresa criminosa


Que flagrada a usar


Mão-de-obra escravizada


Nesta lista aí citada


Toda ela cadastrar


 


XXIX


Nesta hora aqui lembrar


Unaí triste chacina


Nossos quatro companheiros


Ante à fúria assassina


Do mandante a impunidade


Toda anormalidade


Que aqui ainda domina


              


XXX


Compromisso que se assina


Pela erradicação


Nosso Pacto Nacional


Humanista na visão


Pra empresas brasileiras


E também as estrangeiras


A tal crime dizer não


 


XXXI


Vendo a uberização


Na contemporaneidade


As escravidões futuras


Impostas à sociedade


Nosso povo se inteirando


O combate preparando


Forjar pra posteridade


              


XXXII


Esta é nossa verdade


Postulados soberanos


Auditoras auditores


Focados nos mesmos planos


Ante à casta exploradora


Fomos nós mão redentora


Nestes vinte cinco anos!!​


 


Confira aqui a publicação em forma de cordel.

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