Auditores encontraram na linha de produção trabalhadores com exame positivo para a doença e outros com sintomas, mas que não foram afastados. Também descobriram que a empresa não afastou empregados do grupo de risco, dos quais muitos acabaram hospitalizados depois de se contaminarem
As informações são da SRT/SC
Auditores-Fiscais do Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho de Santa Catarina – SRT/SC interditaram nesta segunda-feira, 18 de maio, um frigorífico de aves no município de Ipumirim (SC), depois de constatarem graves irregularidades que expunham os trabalhadores à contaminação pela Covid-19. A ausência de distanciamento seguro entre os empregados na linha de produção e a inexistência de medidas de vigilância para controle da disseminação do novo coronavírus foram os principais problemas apontados pela Fiscalização na unidade da Seara Alimentos, que pertence ao grupo JBS, a maior produtora de carnes do mundo. Os Auditores-Fiscais chegaram a encontrar um trabalhador com a doença confirmada em atividade no lugar.
Os servidores constataram que o frigorífico era o foco de um surto da Covid-19, registrando 86 casos confirmados, o que significa quase 5% dos cerca de 1,5 mil empregados que trabalham no local. Esses casos confirmados na planta industrial representam aproximadamente 14% dos contaminados em toda a Macrorregião Oeste e Serra, e quase 2% de todos os casos do estado de Santa Catarina, que registra cerca de 5 mil infectados e de 90 mortes.
Os Auditores-Fiscais do Trabalho encontraram aglomerações de trabalhadores nos mais diversos setores de produção, especialmente na sala de corte e setor de evisceração, onde foi verificado distanciamento insuficiente entre os postos de trabalho e empregados trabalhando ombro a ombro, com distanciamento por vezes inferior a 50 cm.
Foram constatadas ainda faltas graves na vigilância em saúde. Além do trabalhador com exame positivo para a doença, havia inúmeros empregados com sintomas gripais sugestivos de Covid-19 e ainda casos em que os trabalhadores receberam prescrição de medicamentos voltados ao tratamento da enfermidade, mesmo sem serem testados. Nenhum deles foi afastado do trabalho.
Além disso, a empresa mantinha em atividade mais de 40 trabalhadores que pertencem aos grupos de risco, em razão de serem portadores de doenças crônicas ou outras condições de saúde. O caso mais grave identificado pelos Auditores-Fiscais do Trabalho foi o de um empregado que sofria de hipertensão e, por não ter sido afastado preventivamente, acabou contaminado e teve que ser entubado e internado em UTI por dez dias.
Foram apurados ainda outros casos graves. Um trabalhador, também hipertenso, apresentava tosse havia uma semana, mas somente foi afastado do trabalho depois de sofrer mal súbito em pleno expediente. O empregado teve que ser encaminhado imediatamente ao pronto socorro por causa de dificuldades respiratórias e de baixa saturação de oxigênio.
O frigorífico ficará interditado até que a empresa comprove que adotou as medidas exigidas pela Auditoria-Fiscal do Trabalho.
JBS reincidente
Em 24 de abril, Auditores-Fiscais da Gerência Regional do Trabalho em Passo Fundo (RS) interditaram unidade da JBS Aves em Passo Fundo, depois de constatarem, até o dia da interdição, 19 casos de trabalhadores com Covid-19 e 106 sob suspeita. Além de dois óbitos de pessoas que mantinham contato com trabalhadores do frigorífico. A fiscalização foi feita nos dias 22 e 23 de abril, quando Auditores-Fiscais identificaram risco grave e iminente para a vida e a saúde dos trabalhadores.
Na unidade de Trindade do Sul (RS), que teve pelo menos um caso confirmado, a JBS apenas adotou medidas de contenção do novo coronavírus depois de ser obrigada pela justiça.
No caso da unidade de Santa Catarina, reportagem do UOL informa que a Fiscalização, depois de uma semana averiguando as condições do ambiente e o cumprimento das normas de segurança e saúde ocupacionais, chegou a sugerir que a empresa fechasse o frigorífico por oito dias e testasse todos os funcionários para Covid-19, para somente então reabri-lo novamente. A direção da unidade, no entanto, se recusou a adotar a proposta.
O SINAIT observa que os Auditores-Fiscais do Trabalho exercem atividade essencial no enfrentamento à pandemia da Covid-19. Por suas atribuições inerentes ao cargo, são os agentes públicos que garantem o cumprimento das diretrizes estabelecidas para a proteção dos trabalhadores, dos profissionais de saúde e de toda a sociedade nos ambientes de trabalho. Porém, é importante ressaltar que eles também devem estar protegidos no exercício das atividades de fiscalização. Neste sentido, preocupações foram levadas pelo Sindicato e sua Comissão Técnica – Covid-19 /SINAIT à Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, em relação às orientações e medidas que devem ser tomadas para a proteção de todos os Auditores-Fiscais que atuam em fiscalizações diretas, presenciais. De acordo com a Comissão, essa proteção não compreende somente o fornecimento de EPIs. É necessário providenciar o treinamento e a reorganização das sistemáticas de trabalho.