Por Solange Nunes
Edição: Andrea Bochi
A vacinação, o aumento da imunização, o registro de afastamento por Covid-19 apresentado pelo Ministério do Trabalho e Previdência (MPT), são alguns dos assuntos analisados pelo médico cardiologista e do trabalho, diretor de Saúde e Segurança no Trabalho do SINAIT, Francisco Luís Lima.
As reflexões foram construídas com bases nas divulgações de dois levantamentos. A do Imperial College de Londres, divulgada dia 11 de outubro, mostrando que a taxa de transmissão da Covid-19 no Brasil atingiu, na segunda semana de outubro, seu nível mais baixo desde abril de 2020. E da divulgação de dados do Ministério do Trabalho registrando que o adoecimento por Covid-19 foi a principal causa de afastamentos do trabalho acima de 15 dias e gerando o maior número de liberação de benefícios por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença) nos primeiros sete meses de 2021. Até julho, foram 68.014 concessões; número equivalente a 54,5% das liberações para segurados com a doença em todo ano passado.
De acordo com Luís Lima, os dois temas estão interligados e as informações se complementam em função da pandemia do novo coronavírus no Brasil, que mudou rotinas e procedimentos, além das perdas de vidas humanas. “Estamos ainda no processo de adequação e conhecimento dessa doença que matou muita gente de 2020 até agora no Brasil e no mundo”.
Nesta situação de pandemia, sem precedentes na geração atual, Luís Lima ponderou sobre a chegada do vírus ao país, o aumento de casos e o vislumbre de queda no contágio. “Em 2020, a doença estava aumentando. O país estava em pânico. Tivemos situação de isolamento social e fechamento das empresas. No segundo semestre, com a reabertura das empresas, ocorreu um aumento significativo do número de casos”.
O crescimento do contágio atingiu vários setores, principalmente, os que não puderam funcionar em home office. “Estes trabalhadores adoeceram e precisavam ser afastados para se proteger e não aumentar o contágio no ambiente de trabalho”. No entanto, avaliou que a paralisação de alguns setores, como, por exemplo, das perícias médicas, atrasou os laudos e as causas dos afastamentos.
Neste período, foram muitos casos de registro da Covid-19. “Perdemos o controle da doença e a vacina demorou muito. Em março e abril, deste ano, chegamos a perder cerca de 4 mil vidas por dia! Foi um período cruel da pandemia em número de óbitos e alastramento da doença. A vacina efetivamente só começou em 2021 e o resultado da vacinação, com a redução do número de casos e mortes, só ocorreu muito recentemente”.
O médico Luís Lima lembrou que o atraso da vacinação, as estatísticas de casos documentados, o pânico que o país estava vivendo, provocou inconsistência no registro do número de pessoas afastadas em 2020. “Ainda têm muitos casos represados, muitas perícias atrasadas”.
Explicou ainda que, neste período, as empresas que funcionaram de forma presencial foram principalmente as privadas. Enquanto que alguns setores do serviço público, conseguiram migrar para o trabalho remoto. “A situação resultou em um número menor de pessoas/servidores públicos contaminados e aumento no número de infectados no setor privado”.
Vacinação
Com a vacinação, ponderou Luís Lima, houve uma redução importante de mortes. “Hoje, por exemplo, no Brasil, estamos com 150 milhões de pessoas vacinadas, que significa mais ou menos 70%, com a primeira dose; enquanto, 100 milhões de pessoas tomaram a segunda dose, que representa cerca de 50% da população no país. Quando tivermos com 70% da população com a segunda dose, teremos, com certeza, uma redução significativa de pessoas infectadas e doentes”.
Luís Lima destacou ainda um trabalho divulgado recentemente pelo Centro de Estudos do Instituto de Infectologia Emilio Ribas (CEER), em São Paulo, que analisou as pessoas internadas. “A pesquisa observou que 9 em cada 10 internados com Covid-19, não foram vacinados. Isso é uma demonstração muito clara de que a vacina é fundamental e é importante para a redução da doença e para redução das mortes”.
Neste mesmo estudo, no Emílio Ribas, constatou Luís Lima, a morte foi 14 vezes maior em pacientes não imunizados, em comparação com aqueles que estavam com esquema vacinal completo. “O estudo demonstra que a vacinação é importante e funciona como proteção para a Covid-19”.
O médico apresentou os números divulgados pelo Imperial College de Londres, onde a taxa de transmissão publicada na semana passada, foi de 0,60, o menor número desde abril de 2020. Isso significa que, cada 100 contaminados transmite a doença para outras 60 pessoas. “Isso significa que estamos reduzindo o contágio. Acredito que teremos o controle quando nossa população estiver 70% vacinada com a segunda dose, ou, a dose única, que é o caso da vacina Jansen”.
Em função disso, Luís Lima mostrou-se otimista. “A minha expectativa e otimismo é muito grande. O número de pessoas vacinadas é crescente e agora o país inteiro está vacinando os adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos. Isso vai representar, em breve, uma redução significativa no avanço da doença e propiciará um retorno às escolas com maior segurança”.
O segmento especialmente beneficiado pela vacinação é o do trabalhador. “As empresas estão empenhadas no treinamento de suas equipes, no que tange à proteção no ambiente de trabalho e na imunização de seus profissionais. Além disso, os segmentos de maior risco, estão quase todos vacinados, usando máscaras, com cuidado de afastamento e isolamento”.
Luís Lima lembrou que, apesar da vacinação e dos cuidados atuais contra a Covid-19, infelizmente, muitas vidas se perderam. “Foram mais de 4,84 milhões de óbitos no mundo, enquanto no Brasil ultrapassamos os 600 mil casos fatais. É muita gente que perdeu a vida, muita gente doente”.
O médico e Auditor-Fiscal do Trabalho Luís Lima ponderou, contudo, que a sociedade como um todo aprendeu a se proteger da virose da Covid-19. “As famílias aprenderam e, além disso melhorou a questão da higiene em geral. Estou certo de que, no próximo ano, estaremos com essa pandemia controlada e todos retornaremos aos trabalhos e às antigas rotinas em todos os segmentos”.