Os trabalhadores dormiam em camas improvisadas dentro de um pavilhão precário e a alimentação ainda era insuficiente
Por Cristina Fausta
Um grupo de 14 indígenas foi resgatado em uma fazenda localizada nas proximidades de Lageado Grande, zona rural do município de São Francisco de Paula, na quarta-feira (6/04), onde trabalhavam em condições análogas ao trabalho escravo. Eram 14 pessoas, entre eles dois dois adolescentes, de 14 e 15 anos, e uma mulher, também indígena, que atuava como cozinheira, enquanto cuidava do filho de apenas dois anos.
O trabalho de resgate foi realizado por três Auditores-Fiscais do Trabalho (AFT) da Gerência do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) de Caxias do Sul, com apoio da brigada militar. Segundo relatos da equipe, os índios foram atraídos pela falsa promessa de trabalho, no mês de março. Os trabalhadores saíram da cidade de Erechim (RS) de ônibus e desembarcaram em Caxias do Sul e, depois, seguiram de táxi até uma fazenda de plantação de alho. As irregularidades começaram logo na chegada à propriedade, quando foram surpreendidos pela informação de que já haviam contraído uma dívida com o arrendatário pelo valor gasto com transporte.
Os índios nada receberam pela execução de seus trabalhos, que consistia na colheita, armazenamento do alho até a secagem e, depois, no corte. Além de fazer o grupo trabalhar de graça, o contratante ainda não fornecia equipamentos de proteção individual. As marcas dessa imprudência ficaram gravadas em forma de feridas nas mãos indígenas.
O gerente do escritório regional do MTP, Auditor-Fiscal Vanius Corte, explicou que a prática na região segue um padrão. Segundo ele, os gatos, como são chamadas as pessoas que vão às regiões carentes identificar os possíveis trabalhadores, fazem promessas vantajosas que, depois, viram trabalho escravo em várias regiões do país. “Os trabalhadores são atraídos com uma promessa que na prática não se realiza, porque o contratante acaba cobrando por alimentação e transporte e ainda se vale da distância das cidades para não pagar pelo trabalho realizado”, explicou o Auditor-Fiscal.
A equipe de resgate constatou que parte dos trabalhadores chegou à fazenda no mês de março, mas já havia indígenas trabalhando na colheita, nas mesmas condições, desde janeiro. Além do trabalho pesado, inseguro e não remunerado, o grupo ainda dormia em um pavilhão precário de madeira e sobre camas improvisadas no chão.
Pós-resgate e prisão do responsável
A equipe de resgate levou os indígenas para uma pensão, em Caxias do Sul, onde o grupo aguarda pelo cálculo dos valores a receber e pelo registro de admissão e demissão pelos trabalhos.
O responsável por contratar os trabalhadores, um homem de 47 anos, foi preso em flagrante e encaminhado à Polícia Federal de Caxias do Sul e, depois, encaminhado ao presídio, onde segue à disposição da Justiça Federal.