Chacina de Unaí – Justiça, ainda que tardia! Antério Mânica é condenado novamente como mandante. Pena é de 64 anos


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
27/05/2022



Por Andrea Bochi e Solange Nunes


Passados mais de 18 anos de longa espera, as famílias, amigos e colegas das vítimas da Chacina de Unaí tiveram, na tarde desta sexta-feira, 27 de maio, a certeza do fim da impunidade. Após quase três horas reunido, o Conselho de Jurados proferiu o veredicto pela condenação de Antério Mânica. A juíza Raquel de Vasconcelos leu a sentença às 18h40, determinando a Antério Mânica, um dos mandantes do crime, a pena de 64 anos de reclusão. No entanto, como é réu primário, ele tem direito a recorrer em liberdade.


Os Auditores-Fiscais de todo o País não arredaram pé do local e permaneceram em vigília, com atos de protesto e concedendo entrevistas à imprensa mineira e nacional, durante os quatro dias de julgamento, na Justiça Federal, em Belo Horizonte.


Acusado de ser mandante do assassinato dos Auditores-Fiscais do Trabalho Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira, o mandante do crime, Antério Mânica, foi condenado pela segunda vez pelos quatro homicídios.


Na primeira condenação, em 2015, pelo mesmo Tribunal do Júri em Belo Horizonte, a pena foi de cem anos. No entanto, cerca de três anos depois, em novembro de 2018, ao analisar recurso interposto pela defesa do réu, a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) anulou a condenação e determinou a realização de novo julgamento. Em placar de 2x1, os desembargadores acataram a alegação da defesa de insuficiência de provas.


O julgamento do réu durou quatro dias, foi realizado no edifício sede da Justiça Federal em Belo Horizonte e presidido pela juíza Raquel de Vasconcelos. O destaque foi o interrogatório de Hugo Pimenta, condenado por ter arquitetado o crime e que fez a delação premiada. Hugo acusou Antério e afirmou que a declaração de Norberto Mânica assumindo a culpa foi uma manobra para livrar o “líder do clã”.


Na presença de vários de seus familiares, Antério acusou o irmão Norberto Mânica de ser o mandante. Tentou se passar por um senhor idoso, com voz trêmula, e alegou já estar com 67 anos, velho demais para passar o resto de sua vida na prisão.


Para o presidente do SINAIT, Bob Machado, a condenação de Antério Mânica traz alívio para todos. "É o resultado de muito trabalho e luta para que o crime não caia no esquecimento e que a justiça seja feita."


Para a diretora Rosa Jorge, que acompanha o caso desde o início, a segunda condenação de Antério é uma vitória da justiça contra a impunidade. “A nossa luta segue para exigir que as penas sejam cumpridas, com a prisão de todos os mandantes e intermediários, que continuam em liberdade até hoje”, garantiu.


Durante o julgamento, versões e depoimentos


Nesses quatro dias de julgamento, os jurados acompanharam as exposições dos advogados de defesa e de acusação, além dos depoimentos das viúvas, entre outras testemunhas.


No primeiro dia, terça-feira, 24 de maio, seis testemunhas de acusação foram ouvidas. O Auditor-Fiscal do Trabalho Afrânio Gonçalves Soares foi interrogado a respeito dos procedimentos nas operações e sobre as fiscalizações nas fazendas de Antério Mânica.


O então comandante de policiamento em Unaí, Vilmar da Silva Ferreira, por sua vez, contou como ajudou no resgate dos corpos e que encontrou a caminhonete que levava Ailton, ainda com vida, para o hospital.


O ex-delegado de Polícia Civil Wagner Pinto de Souza confirmou uma das principais provas que ligam o fazendeiro Antério Mânica à Chacina de Unaí. Ele sustentou que um veículo igual ao da mulher do réu foi visto no local onde estavam os executores dos assassinatos e os intermediários do crime.


Falou também o então delegado do Trabalho, Carlos Calazans, a respeito de reuniões na assembleia e palavras contundentes que proferiu direcionadas à Antério. Calazans esclareceu que sua conduta sempre foi buscando o esclarecimento da verdade. Contou como ficou sabendo do ocorrido e que estava em Brasília.


A terceirizada no Ministério do Trabalho Rita Cristina Mundin trabalhava na unidade do Ministério do Trabalho em Paracatu e contou que recebeu uma ligação no dia do crime, de uma pessoa que perguntou se havia acontecido algum crime e se os fiscais tinham morrido. Segundo ela, a pessoa se identificou como Antério Mânica. Rita acrescentou que, após 20 minutos, a mesma voz disse ao telefone que já sabia que os fiscais estavam mortos e que se identificou novamente como Antério Mânica.


No segundo dia, quarta-feira, 25 de maio, depôs Erinaldo de Vasconcelos Júnior, um dos executores, que cumpre pena desde sua condenação, em 2013. Ele descreveu detalhes sobre sua contratação e a maneira pela qual matou os fiscais. Declarou que o dinheiro foi pago por José Alberto de Castro e Norberto Mânica.


Emanoelle da Silva Rodrigues, servidora pública, sobrinha da Helba Soares, declarou que durante a campanha política, após os crimes, uma amiga dela, Camila, com quem não tem mais contato, comentou que Bernadete, esposa de Antério Mânica, disse que não podia usar adesivo de política, porque o seu carro ficava na garagem sempre coberto por uma capa.


João Alves de Miranda, policial civil que trabalhou na apuração do caso em 2004, disse que durante a investigação a equipe analisava a mecânica da situação, a fim de saber se o crime havia sido latrocínio ou execução. “A análise levou para a suspeita de execução.”


Antônio César relatou que sua formação acadêmica é de engenheiro eletricista e que exercia a função de perito criminal. Em razão disso, foi contratado pelo Ministério Público para produzir laudo de uma gravação digital, em que analisou o conteúdo. 


Depois das oitivas das 19 testemunhas de acusação e de defesa realizadas na terça e quarta-feira, 24 e 25 de maio, respectivamente, o julgamento de Antério Mânica passou à fase de apresentação de provas materiais aos jurados.


Durante a sessão, houve a apresentação das peças processuais como vídeos, interceptações telefônicas e fotos dos Auditores-Fiscais mortos dentro da caminhonete do Ministério do Trabalho. Também foi feita a leitura de um dos relatórios de fiscalização de propriedades rurais dos irmãos Mânica, que foi detalhadamente elaborado por Nelson.


Na ocasião, o Ministério Público Federal apresentou reportagem veiculada no programa Domingo Espetacular, da Rede Record, em 5 de maio de 2013, cuja manchete chamava a atenção para depoimentos inéditos dos pistoleiros e de trabalhadores das fazendas dos Mânicas em Unaí.


Ainda no terceiro dia, quinta-feira, 26 de maio, teve o depoimento do acusado Antério Mânica, 67 anos, que manifestou direito ao silêncio. Na ocasião, ele negou envolvimento no crime que vitimou os três Auditores-Fiscais e o motorista do Ministério do Trabalho. A prerrogativa do direito ao silêncio é prevista em lei e estabelece que ninguém tem a obrigação de produzir provas contra si mesmo.


No quarto dia do julgamento, sexta-feira, 27 de maio, a Procuradoria reforçou as provas, esmiuçou as investigações e pediu justiça aos jurados, enfatizando a culpa e a participação efetiva de Antério Mânicano caso.


 



Chacina de Unaí – Justiça, ainda que tardia!



Antério Mânica é condenado novamente como mandante. Pena é de 64 anos



Auditores do Trabalho continuam manifestação, no fim do julgamento de Antério Mânica

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