Filme Pureza retrata uma vida dentro de uma realidade de resistência e luta vivida pelo SINAIT e Auditores no país


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
21/06/2023



Por Solange Nunes
Edição: Andrea Bochi


O Filme Pureza retrata a luta de uma mãe que passou três anos na busca de seu filho por áreas de garimpo e fazendas no interior do Maranhão e Pará. Esta busca de incertezas, é como o relato de outras mães e trabalhadores brasileiros que saem de casa e encontram situações degradantes de trabalho e vida. Os relatos trazem à luz uma realidade denunciada diuturnamente pelos Auditores-Fiscais do Trabalho e pelo SINAIT. Além de ser constatado in loco por Auditores-Fiscais do Trabalho do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) e dos grupos de fiscalização rural, que combatem o trabalho escravo do Oiapoque ao Chuí no país.


No dia 15 de junho, Pureza Lopes Loyola, que inspirou a história do filme 'Pureza', recebeu o prêmio internacional Tip Hero (trafic in person) pela sua contribuição na luta contra a escravidão e o tráfico de pessoas. O prêmio foi entregue pelo governo dos Estados Unidos da América, em Washington. Pureza é a primeira mulher brasileira a receber a honraria.


A obra que ganhou as telas do cinema, Netflix e a Tela Quente da Rede Globo foi exibido em 34 festivais, recebeu 26 prêmios nacionais e internacionais, em 17 países: Brasil, França, EUA, Guadalupe, Itália, Rússia, China, Alemanha, Panamá, Bolívia, Marrocos, Cuba, Reino Unido, México, Argentina, Colômbia e Líbano.


Narrativa que contou com a participação do SINAIT por quatro gestões, Rosa Maria Campos Jorge, Rosângela Rassy, Carlos Silva e Bob Machado que contribuíram para o registro inicial do filme, sua construção, elaboração, roteiro, finalização e lançamento em 2022. Além de intensa divulgação nos meios de comunicação da entidade.


De acordo com Rosa Jorge, o primeiro contato do diretor Renato Barbieri foi em sua gestão. “O diretor Barbieri foi até o SINAIT pedir apoio para registrar os direitos autorais do roteiro do filme. O diretor explicou o objetivo da obra que era o de denunciar o trabalho escravo no Brasil e mostrar a atuação dos Auditores-Fiscais do Trabalho neste combate. Atendi prontamente o pedido e acreditei na proposta, com isso o diretor pode buscar recursos em outras entidades e órgãos, já que o registro estava garantido”, lembra Rosa Jorge.


Durante sua manifestação no 38º Enafit, em 2022, Renato citou o investimento inicial e o fato de a então presidente, Rosa Jorge, ter acreditado na ideia.


Rosa Jorge disse que ajudar na produção representou um compromisso do SINAIT em denunciar o trabalho escravo. “É o nosso compromisso para a erradicação do trabalho escravo no país”.


Na gestão de Rosângela Rassy, novamente Renato Barbieri fez contato com os dirigentes do SINAIT para pedir apoio, em outro momento da produção. “O resultado é a edição de um filme forte que retrata uma história real”.


Para Carlos Silva, a arte é uma forma instigante de demonstrar outra realidade. “O filme conta uma história real. Com certeza, atingiu pessoas jovens e adultas, que não sabiam desta realidade”.


Bob Machado, que participou do lançamento do filme Pureza e sua repercussão pelos país, considera a obra uma missão cumprida. “Foi o compromisso de quatro gestões. O filme é um sucesso. Nele, conseguimos mostrar uma realidade que precisa ter fim, além da luta da categoria para erradicar esta chaga no Brasil”. 


 - Neste momento em que a obra, materializada no filme Pureza, ganha ampla divulgação popular e prêmios internacionais a Ascom do SINAIT, conversou com dois Auditores-Fiscais do Trabalho, Cláudia Márcia de Sousa Ribeiro e Sérgio Carvalho, que conheceram Pureza Lopes Loyola e sua busca pelo filho Abel.


Entrevista com a Auditora-Fiscal do Trabalho, Claudia Márcia:


Ascom/SINAIT - O que a senhora acha deste reconhecimento da luta de Pureza?


Cláudia - Acredito que o filme está contribuindo muito para divulgar esse crime que até hoje acontece no Brasil. Através do filme, a sociedade está tomando conhecimento do trabalho escravo, que ocorre não só na zona rural, mas também na zona urbana, onde adultos, adolescentes, crianças e mulheres que trabalham como domésticas são vítimas desse crime.


Ascom/SINAIT - De que forma a repercussão do prêmio e do filme na TV aberta, Tela Quente, pode contribuir no combate ao trabalho escravo?


Cláudia – Acredito que a sociedade através do filme e das matérias divulgadas pela imprensa, está tomando conhecimento de como acontece o trabalho escravo no Brasil nos dias de hoje. A nossa sociedade estará cada dia mais consciente do seu papel e certamente não se calará diante desse crime.


Ascom/SINAIT - O que a senhora acha deste reconhecimento da luta de Pureza, por meio do prêmio internacional Tip Hero?


Cláudia – Acho justo o reconhecimento que dona Pureza teve e está tendo, afinal ela foi, com sua sagacidade capaz de se embrenhar por fazendas onde pistoleiros e ‘gatos’ eram bastante violentos, inclusive ela contou que em muitas fazendas não permitiram sua entrada.


Ascom/SINAIT - Vocês conseguiram ajudar Pureza em sua luta na busca do filho Abel? A Inspeção do Trabalho foi acionada?


Cláudia – Dona Pureza, a época, foi orientada a fazer cartas para as autoridades. Então escreveu para o presidente Fernando Henrique, Ministério da Justiça, entre outros órgãos. Essa carta para o então presidente se transformou em um processo no Ministério Público Federal (MPF), "A Procura de Abel" era o título do processo, que posteriormente foi encaminhado para o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).


A Ruth, secretaria à época, passou-me o processo, porque o Maranhão fazia parte da região sob minha responsabilidade. Fomos então, Sérgio e eu, a cidade de Bacabau conversar com dona Pureza, saber como estava a situação, se deveríamos formar uma equipe Móvel para procurar o Abel.


Ascom/SINAIT - Como foi o encontro com dona Pureza?


Cláudia – Dona Pureza nos recebeu muito bem. Contou que tinha ido a várias fazendas no Pará. O interessante dessa história é que dona Pureza levava uma foto do Abel, na bolsa um gravador e fitas cassetes onde gravava a conversa que tinha com os ‘gatos’. Ela nos mostrou uma bolsa cheia de fitas com gravações que fez. Saímos um pouco frustrados, com o sentimento de que o processo demorou muito a chegar ao MTE.


Entrevista com o Auditor-Fiscal do Trabalho e fotógrafo, Sérgio Carvalho:


Ascom/SINAIT - O que o senhor acha do prêmio Tip Hero recebido por dona Pureza?


Sérgio – Esse reconhecimento é muito importante para luta contra o trabalho escravo contemporâneo no Brasil. Dona Pureza, com sua luta em busca do seu filho Abel, virou símbolo e referência dessa luta. Ela, na verdade, representa boa parte da população brasileira explorada no dia a dia na luta pela sobrevivência. Dona Pureza é a vida real do Brasil, ontem e hoje.


Ascom/SINAIT - Já conhecia Pureza e sua luta?


Sérgio – Em 97, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um procedimento em busca do Abel, filho de dona Pureza. Nessa época, já tinha participado de ações do Grupo móvel de combate ao trabalho escravo. Assim, eu e a Auditora e Coordenadora do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) Móvel Cláudia Márcia fomos até sua casa em Bacabau (MA) para entrevista-la e conhecer sua história.


Como havia dois anos que o governo brasileiro tinha reconhecido a existência de trabalho escravo no nosso país e criado o GEFM como braço operacional da política de combate ao trabalho escravo, para atender denúncias de trabalho escravo, fomos até sua casa para ouvi-la e colher informações sobre as fazendas por onde tinha passado à procura de Abel. Me lembro muito bem dela mostrando uma caixa de sapato com fotografias tiradas nas diversas fazendas por onde tinha passado.


Ascom/SINAIT - Como a Auditoria-Fiscal do Trabalho ajudou neste processo de busca do filho dela, Abel?


Sérgio – Quando encontramos dona Pureza em 1997, ela já tinha encontrado o seu filho. O Abel saiu de casa para trabalhar em fazendas no Maranhão e Pará e também no garimpo, em 1993, e passou três anos desaparecido. O Brasil somente reconheceu a existência de trabalho escravo em 1995 numa Assembleia da Organização as Nações Unidas (ONU) e em seguida foi criado o Grupo Móvel. Então, foi dona Pureza com sua luta que contribuiu para denunciar essa chaga que ainda existia no Brasil e fortalecer a luta contra o trabalho escravo.


Ascom/SINAIT - O filme Pureza, que contou com a promoção do SINAIT, em sua pré-produção, produção e lançamento em 2022, teve depoimentos de vocês na construção do roteiro?


Sérgio – Me recordo de ter enviado muitas fotos para pré-produção tanto do filme Pureza, como do documentário Servidão, dirigido também pelo Renato Barbieri, que traz depoimentos diversos sobre a escravidão moderna.


Ascom/SINAIT - O que o senhor acha da repercussão atual no filme Pureza no Google Play da Rede Globo; na TV aberta, sessão Tela Quente, da Rede Globo e também na Netflix?


Sérgio – Por abordar um tema tão importante, podendo alcançar um grande público, acho importante pra levar para sociedade esse problema que ainda existe no Brasil. A luta de dona Pureza, sua vida transformada em filme, os prêmios conquistados contribuíram para dar a visibilidade necessária e a conscientização para esse drama que ainda persiste em todas as regiões do país. Não é só um problema da região Norte ou Nordeste. O trabalho escravo, infelizmente, está presente em todo o país, nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Também em diversos setores econômicos que vão desde as atividades rurais como urbanas, à exemplo, da construção civil e da confecção de roupas.


Ascom/SINAIT - O senhor é Auditor-Fiscal do Trabalho e fotógrafo. Há quantos anos registra e denuncia por meio das imagens o trabalho escravo no país?


Sérgio – Eu entrei no Ministério do Trabalho em 1995 e já 1996 participei de uma ação de combate ao trabalho escravo na região da Serra do Cachimbo, entre o Pará e Mato Grosso. Foi uma ação muito difícil para apurar denúncia de trabalho escravo na Floresta Amazônica. Havia relatos de assassinatos, grilagem de terra e muitos outros crimes. Depois dessa ação, decidi utilizar a fotografia como ferramenta para denunciar esse crime e dar visibilidade a esses trabalhadores invisíveis transformados em coisa, usurpados de seus direitos básicos.


Ascom/SINAIT - Como seu trabalho pode mudar esta realidade?


Sérgio – A fotografia além de uma importante ferramenta de trabalho, para registrar irregularidades, as péssimas condições de trabalho e ilustrar relatórios da Auditoria Fiscal do Trabalho, é também fundamental para revelar para sociedade e para autoridades os graves crimes contra os direitos fundamentais dos trabalhadores nas mais diversas atividades econômicas e em todas as regiões do país.


Ascom/SINAIT - O senhor tem algum novo projeto sobre o tema?


Sérgio – Venho registrando desde 2019 as péssimas condições de trabalho de migrantes de origem andina na indústria do vestuário em São Paulo. Durante o 39º Enafit, que ocorrerá de 17 a 22 de setembro deste ano, na capital paulista, pretendemos fazer a primeira exposição desse ensaio sobre o trabalho escravo nas facções têxteis em São Paulo e, se possível, lançar um livro sobre o tema.

Categorias


Versão para impressão




Assine nossa lista de transmissão para receber notícias de interesse da categoria.