39º Enafit – Exposição retrata a escravidão dos trabalhadores das oficinas de costura em São Paulo


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
20/09/2023



Levar ao conhecimento da sociedade as condições de trabalhadores andinos submetidos a condições degradantes é a proposta da mostra fotográfica

Por Andrea Bochi


“Oficina do Suor” mostrou a realidade de trabalhadores submetidos ao trabalho escravo na indústria da moda em São Paulo por meio de fotos impressas em tecido, no final da tarde desta segunda-feira, 18 de setembro, no espaço da Oficina Cultural Oswald Andrade, como parte da programação do 39º Enafit.


As fotos do Auditor-Fiscal do Trabalho e fotógrafo, Sérgio Carvalho, retratam os trabalhadores e locais de trabalho nas oficinas de costura, que produzem peças de roupas populares e falsificações de grandes marcas em São Paulo.


Na inauguração da exposição, os Auditores Renato Bignami, Lívia Ferreira, Sérgio Carvalho e Luís Alexandre de Farias fizeram a leitura dramática de excertos do “Rei da vela”, de Oswald de Andrade.


A exposição com a curadoria de Rosely Nakagawa dá visibilidade à precariedade das condições de trabalho realizado por imigrantes andinos, ao mesmo tempo em que leva ao conhecimento da sociedade a iniciativa de Auditores-Fiscais do Trabalho que, em 2010, na área urbana de São Paulo, deram início ao enfrentamento ao trabalho análogo ao de escravo na indústria da moda.


O vice-presidente do SINAIT, Carlos Silva, destacou a importância da atuação dos Auditores-Fiscais que é fundamental para a promoção do trabalho decente no Brasil. Convidou a todos de fora da carreira a aproximarem-se do tema para que seja levado ao conhecimento de toda a sociedade. “O SINAIT trabalha para que os Auditores-Fiscais tenham condições de atuar nessa luta pela erradicação do trabalho escravo”.


Para Sérgio Carvalho, a Oficina do Suor tem um significado muito forte, um grito de socorro por tudo que a Inspeção do Trabalho passou no governo anterior. “A mostra destaca a resistência dos Auditores-Fiscais que resgatam esses trabalhadores de condições degradantes. Os Auditores estão em todos os lugares onde há trabalhador em condições de escravidão e insegurança. Protegemos os direitos dos trabalhadores. As minhas fotografias têm uma força política, que mostra a necessidade de retirar esses trabalhadores da invisibilidade e do esquecimento”. E destaca que esse ataque à dignidade do trabalhador está em todas as regiões do país.


O Auditor-Fiscal do Trabalho, Renato Bignami, relatou a experiência no combate ao trabalho escravo nas oficinas de costura contextualizando o tema da exposição. Segundo Renato, para a Inspeção do Trabalho ficou claro que a última coisa que poderia acontecer com os trabalhadores imigrantes, seria a deportação durante a busca por condições de trabalho decente. Cerca de 400 mil trabalhadores migrantes encontram-se nessas condições no estado.


“Nessa trajetória trouxemos o entendimento para o direito brasileiro e todos passaram a compreender que esse é um sistema de trabalho que envolve a confusão entre moradia e local de trabalho, uma mistura dos dois. Nessas 'moradias' vivem reunidos vários trabalhadores e sabemos que já foram mortos mulheres, homens e crianças. Também foi identificada a servidão por dívida e diante disso, os Auditores observaram a exploração em cadeia”, explicou o Auditor.


Dez anos se passaram e a sociedade reconhece essa situação como uma condição degradante e reconhece a responsabilidade da grife e, por isso a Inspeção do Trabalho considera que toda essa luta alcançou um resultado positivo. “Resgatamos uma trabalhadora que era punida a cada vez que ela precisava ir ao médico em razão da gravidez de risco. Nos dias em que se ausentava, o marido da trabalhadora ficava sem refeição. Resgatamos ambos e nos emocionou muito quando o bebê nasceu e ela a batizou com meu nome e da Auditora Lívia Ferreira, em nossa homenagem”, contou Bignami.


Ao final, os presentes puderam ouvir músicas do grupo Retrato Crioulo formado por migrantes andinos. A apresentação musical homenageia os trabalhadores latino-americanos resgatados pela fiscalização em oficinas de costura da capital paulista.

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