39° Enafit: Projeto que alinha música com questões do mundo do trabalho é sucesso entre os enafitianos


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
21/09/2023



Questões de gênero, racismo e desigualdade social são retratadas nas letras de músicas de autores brasileiros, interpretadas pelo cantor e compositor Zé Renato no evento


Por Lourdes Marinho
Edição: Andrea Bochi


A programação desta quarta-feira, 20 de setembro, do 39° Encontro Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho trouxe o cantor e compositor Zé Renato no projeto Música + Trabalho. O projeto alinha música com as questões que estão sendo tratadas no encontro, especialmente com o tema trabalho escravo.


Iniciado no 35º Enafit, no Rio Grande do Norte, em 2017, o Música + Trabalho está em sua segunda edição e pelo sucesso que faz entre os enafitianos, pelo visto veio para ficar.


Apresentada pelo Auditor-Fiscal do Trabalho Lucas Reis, a atração, a segunda edição trouxe no repertório 14 músicas que tratam da desigualdade social, da questão de gênero e do racismo, situações que estão intrinsicamente ligadas ao  mundo do trabalho. 


"Carcará", música de João do Vale e José Cândido, abriu a apresentação dessa noite. A letra aborda temas de miséria, fome e elementos que perpetuam o trabalho escravo contemporâneo.


Gravada inicialmente, em 1965, por Nara Leão, e posteriormente por Maria Bethânia, a interpretação da baiana deu a "Carcará" um significado especial, tornando-a um hino do povo nordestino, explorando os movimentos de migração da década de 1960, que se assemelhavam a uma diáspora nordestina, outro aspecto relacionado ao trabalho escravo.


“A escolha dessa música para abrir atração é justificada pelo contexto em que ocorre, em São Paulo, uma cidade que não apenas é a capital de um estado, mas também é considerada a capital do nordeste e do país, devido ao significativo fluxo migratório que a influenciou desde a década de 1940. A música "Carcará" representa uma voz de resistência contra a fome, a miséria e as condições precárias enfrentadas por milhares de trabalhadores brasileiros em todas as regiões do país”, explica Lucas Reis.


As dificuldades da mulher trabalhadora foram representadas por meio de músicas como Lamento da Lavadeira, de Aldir Blanc, interpretada por João Bosco. Muita gente gravou essa música, inclusive Zé Renato. O que   mais   chama a atenção nessa música é a simplicidade. Fazer uma poesia e uma música tão finas com tanta simplicidade. Cotidiano do trabalho da mulher para lavar, passar e secar a roupa da sinhá. Música repetitiva, demonstra a repetição, desse ciclo repetitivo em que se resume a  vida da mulher lavadeira. Lavar, secar e passar a roupa da sinhá repetidamente.


A música "A Mão da Limpeza" do álbum "Raça Humana" de Gilberto Gil, lançado em 1984, aborda o tema do racismo, um legado direto da escravidão colonial e da escravidão contemporânea. De maneira muito eloquente, a música estabelece um diálogo com o lamento da lavadeira, explorando a ideia da limpeza.


A letra destaca a importância da "mão negra" na realização das tarefas de limpeza, como lavar roupas encardidas e esfregar o chão. Além disso, menciona a "mão consumida ao pé do fogão," abordando a questão do trabalho doméstico, que historicamente está associado às mulheres negras.


A letra não apenas trata o tema da escravidão e do trabalho escravo com seriedade, mas também adota uma abordagem irônica, sarcástica e até mesmo cômica.


“Essa abordagem multifacetada torna a música uma reflexão profunda sobre as complexidades do racismo e da herança da escravidão, ao mesmo tempo em que lança um olhar crítico sobre as dinâmicas sociais e culturais que persistem até os dias de hoje. ‘A Mão da Limpeza’ é, portanto, uma canção que convida à reflexão e à discussão sobre questões cruciais da sociedade brasileira e global”, pontua Lucas Reis.


Integraram ainda o repertório: O canto das três raças, de Paulo César Pinheiro, interpretada por, Clara Nunes; A Mão da Limpeza, também de Aldir Blanc, por elis Regina; Canção do Sal, de Vinicius de Moraes, interpretada por por Nara Leão; Morro Velho, de Ronaldo Bastos, interpretada por Milton Nascimento, Relampiano, de Hermínio Bello de Carvalho, interpretada por Elis Regina; Pedro Pedreiro, de Chico Buarque interpretada por ele mesmo; Valsinha, de Chico Buarque e Vinicius de Moraes, interpretada por Chico Buarque e Maria Bethânia.


Além de Canção da Partida, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, cantada por Nara Leão; Essa Mulher, de Joyce Moreno, interpretada por Joyce Moreno; Izaura, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, interpretada por Martinho da Vila; Capitão da Indústria, de Aldir Blanc e João Bosco, interpretada por João Bosco e por fim Comportamento Geral de Gonzaguinha por Gonzaguinha.


Zé Renato, ganhador do Grammy internacional na categoria Melhor Álbum Pop Latino, em fevereiro deste ano, disse que o projeto do talk show é uma experiência gratificante. “Permitiu que eu cantasse músicas que conheço, que estou familiarizado, mas que nunca havia tocado ou interpretado”, declarou.


“A música popular brasileira mais uma vez cumpre o seu papel, que é o  de retratar os problemas brasileiros através da poesia. Tem esse poder que faz a gente pensar, e dá o seu recado”, finalizou.  

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