21 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL


Por: SINAIT
Edição: SINAIT
31/03/2009



31-3-2009 – SINAIT


 


No último dia 21 de março foi celebrado o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, instituído pela Organização das Nações Unidas em 1969, em homenagem a 69 negros mortos e outros mais de 180 feridos na África do Sul, no episódio conhecido como “Massacre de Shaperville”. Os negros protestavam pacificamente contra a Lei do Passe, que os obrigava a utilizar um cartão que delimitava onde e quando ir, mas foram alvejados por rajadas de metralhadoras da polícia local. Este fato foi o primeiro a chamar a atenção do mundo para o apartheid, extinto em 1990.


Os Auditores Fiscais do Trabalho – AFTs têm entre suas atribuições o combate a qualquer tipo de discriminação no trabalho, cumprindo o que determina a Convenção nº 111 da Organização Internacional do Trabalho – OIT. A AFT Carmem Cenira Pinto Lourena Melo (SP), atenta ao tema, enviou ao SINAIT um texto a respeito do Dia Internacional Contra a Discriminação Racial que, como tantas outras datas comemorativas, é considerado um dia de luta em todo o mundo.


 


Leia o artigo:


 


Artigo - NEGRA DE ALMA NEGRA!!!


 


Vivemos numa sociedade branca, onde a discriminação racial negra marca incontestavelmente a sua presença. Nisso não há novidade para ninguém. O que eu gostaria de levar ao leitor é como aprendi a me defender para sobreviver!


Quanto a ser negra, há apenas pouco mais de 100 anos não se tem mais a escravidão avalizada pelo Estado.  Ser negro num país que se diz sem preconceito e discriminação é cruel demais e para mim não deixa de ser uma forma de violência!


Desde muito pequena aprendi a trazer a negritude na alma. Meu pai teve a clarividência de nos mostrar sob diversos ângulos o peso de carregar a cor na pele, os traços fisionômicos “diferentes” e o cabelo carapinho. Desde tenra idade sentávamos eu e meus irmãos para ouvirmos papai declamar poemas de Castro Alves com tamanha euforia que durante muitos anos guardei em minha memória o “Navio Negreiro”. Ele não se esquecia também de nos falar sobre Martin Luther King e não se cansava em repetir com a voz embargada seus discursos inflamados contra a discriminação racial nos Estados Unidos.


Os saraus poéticos se foram, a infância se foi, um dos meus irmãos se foi para sempre, o brilho nos olhos de papai também se foi, dando lugar hoje a um olhar que vagueia, como a procurar por aquela emoção! Sim, aprendi com papai, Antonio, Castro Alves e Martin Luther King a ser negreira, uma negra de alma negra!


Eu e meus irmãos embarcamos sem pestanejar no navio vindo da África, trazendo nossos ancestrais, considerados seres inferiores, semi-animais. E como num sonho dantesco atravessamos o oceano por entre astros, noites, tempestades, tinir de ferros, estalar de açoites, ranger de dentes, gritos, gemidos, lágrimas, cambaleantes de fome e sede. Fome e sede que nosso pai do alto de sua sabedoria nos saciava com as histórias dos heróis negros como Zumbi dos Palmares, Ganga Zumba, João Cândido - o Almirante Negro, Martin Luther King, entre outros.


Lutei pacificamente contra toda essa violência que a sociedade me legou por meio da história! A exemplo de meus antepassados – verdadeiros heróis da resistência –  venci.  E com Martin Luther King posso dizer com orgulho: “Não somos o que deveríamos ser, não somos o que poderíamos ser; não somos o que gostaríamos de ser, mas graças a Deus não somos o que éramos!”

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