Com informações do Jornal do Commercio
O SINAIT e a Delegacia Sindical da entidade em Pernambuco (DS-PE) comunicam, com pesar, o falecimento da Auditora Fiscal do Trabalho aposentada Nanci Lourenço Soares, 79 anos, que morreu na noite do sábado, 22 de fevereiro. Ela deixa três filhos, dois netos e o marido, o sociólogo José Arlindo Soares, com quem era casada há 46 anos.
Nanci Lourenço Soares estava internada no Hospital Memorial São José, no Recife, e faleceu em decorrência de complicações de uma cirurgia para retirada de um tumor.
A despedida de Nanci acontecerá nesta segunda-feira, 24 de fevereiro, das 14h às 17h, no cemitério Morada da Paz, em Paulista, em Pernambuco.
Engajada e combativa contra as injustiças
Nascida em Fortaleza, em 1945, desde muito cedo demonstrava uma natureza inquieta, rebelde, questionadora, combativa contra as injustiças. Nos anos 1960, tão logo havia alcançado a maior idade, já estava engajada na política. Em 1965, no primeiro ano no colegial, entrou para o Grêmio Estudantil do Colégio Pio X Pontes, na capital cearense. Foi a partir de sua militância que conheceu uma de suas grandes referências, a educadora e feminista cearense Thereza Furtado. Em 1968, já na universidade, participou ativamente das mobilizações contra a ditadura. Por sua militância, foi presa pelo regime militar e permaneceu detida até 1985.
Regime militar
Militante de um partido trotskista, Nanci Soares foi presa em São Paulo, nos anos 1970. Em uma carta escrita em 2021, pela passagem do seu aniversário, lembrou os acontecimentos da sua militância e da história brasileira. Ela ficou oito meses encarcerada na ala feminina do Presídio de Tiradentes, em São Paulo. No teto, recordou que o prédio tinha o formato de uma torre e era conhecido na época como Torre das Donzelas.
Nanci conta que o bom humor das companheiras de resistência ajudava nos diferentes desafios. “Lá eu ouvi pela primeira vez a voz de Caetano Veloso (era contrabando de tango), em um disco de vinil enviado para a cela. Eu, por sorte, havia sido a escolhida para carregar uma vitrola portátil para dentro da prisão”, registrou.
Após sair da prisão, Nanci ainda morou em São Paulo antes de decidir viver no Recife. Chegou em uma noite natalina e se hospedou em uma pensão junto da Estação Rodoviária, no Cais de Santa Rita. Mas acabou sendo acolhida, durante um ano, na casa dos amigos de José Arlindo, Domingos e Bibi Durval, até se mudar para seu próprio lar.
Auditora do Trabalho
Em 1977, Nanci fez concurso para auditora do trabalho e foi aprovada. Em 1985, assumiu depois da Lei da Anistia. Em 1974, concluiu o curso de Direito na Universidade Federal de Pernambuco, depois de passar pelos cursos federais do Ceará e da Paraíba. Sua atuação na auditoria estava ligada à causa da juventude.
Trabalho infantil
Nanci foi uma das primeiras pessoas a denunciar o trabalho escravo infantil, praticado nas usinas de açúcar da Zona da Mata pernambucana. Ela deu um importante impulso à luta contra o abuso da mão de obra de crianças, promovendo ações de repressão, em parceria com instituições locais. Também contribuiu para a elaboração do primeiro plano nacional de erradicação do trabalho infantil no Brasil.
Sua atuação foi reconhecida pelo então ministro do Trabalho, Jacques Wagner, e ela se consolidou como uma das principais referências no combate à exploração infantil no Brasil. Em Pernambuco, com o juiz Hermilo Borba Filho e o Legio Arcoíris, encabeçou importantes campanhas que resultaram na criação do Bolsa Escola.