O jornal Valor Econômico trouxe esta semana uma matéria que faz uma análise do movimento do mercado de trabalho brasileiro, mostrando que seu crescimento ocorre principalmente entre os empregos que pagam até dois salários mínimos. Acima dessa faixa salarial, demite-se mais do que se contrata.
Para alguns especialistas em economia este é um sinal de que não existe, de forma generalizada, um apagão de mão de obra qualificada no mercado, como é alardeado.
Entre janeiro e setembro deste ano foram criados 1,92 milhão de vagas na faixa que paga até dois salários mínimos e fechados cerca de 140 mil entre as faixas que pagam acima desse valor, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE.
Uma análise deste cenário, com base nos dados do Caged, indica que as empresas estão demitindo pessoas que ocupam cargos com salários maiores e contratando com menores. A concentração nessa faixa mais baixa também ocorre porque o salário mínimo tem avançado significativamente e o seu poder de compra aumentou.
No Brasil, o setor de serviços é o segmento que mais gera empregos, e está recebendo boa parte dos cerca de 2 milhões de trabalhadores que estão entrando no mercado de trabalho neste ano, em especial na área de construção civil.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, atualmente, não existe apagão de mão de obra qualificada, mas também não sobra. Em algumas situações bem específicas, a exemplo da construção civil, faltam profissionais mais qualificados. Mas o apagão de mão de obra pode chegar em pouco tempo, por causa da desaceleração do crescimento da população economicamente ativa provocado pelo envelhecimento da sociedade brasileira.
“Também não adianta ter oferta de profissionais cada vez mais escolarizados se as vagas que estão sendo criadas são para ficar atrás de um balcão no comércio", explica Sérgio Mendonça, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese.
Rotatividade
Apesar da melhora da economia, as taxas de rotatividade de mão de obra no mercado de trabalho brasileiro têm aumentado. Segundo um estudo do Dieese em parceria com o MTE, o Brasil apresenta tempo médio de trabalho mais baixo na comparação com outros 25 países, sendo que a construção civil e agricultura, que seguem determinadas sazonalidades, despontam como os setores com maior rotatividade. De acordo com o estudo, a rotatividade é uma característica marcante do mercado de trabalho formal brasileiro.
A Dinamarca aparece logo depois do Brasil na comparação. Já a Itália, França e Bélgica foram as "campeãs" de rotatividade.
O estudo mostra que houve melhora nos níveis de ocupação e da massa salarial, discreta recuperação da renda, queda do desemprego e aumento do emprego formal. Entre 2003 a 2009, o total de vínculos empregatícios no ano cresceu 49,5%, ao passar de 41,9 milhões para 61,1 milhões. Já os vínculos empregatícios ativos entre 31/12/2002 e 31/12/2009 registraram elevação de 43,66% no período, o que equivale à geração de 12,5 milhões de empregos. Ao mesmo tempo, o número de desligados no período também aumentou, passando de 12,2 milhões em 2003 para 19, 9 milhões em 2009. Isso explica, também, porque, apesar do aumento na geração de empregos, o número de pedidos de Seguro-Desemprego também aumentou, conforme matéria que publicamos na semana passada
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Atuação da fiscalização
Nos últimos oito anos os Auditores-Fiscais do Trabalho registraram aproximadamente 5,6 milhões de trabalhadores sob ação fiscal. Afastaram cerca de 70 mil crianças de situação de trabalho, fizeram mais de 7 milhões de notificações em FGTS e recolheram 2,6 milhões deste benefício.
Mais informações sobre estes assuntos nas matérias abaixo do Valor Econômico e da Repórter Brasil.
23-11-2011 – Valor Econômico
País só cria vagas de baixa remuneração
Por Carlos Giffoni | De São Paulo
O crescimento do mercado de trabalho brasileiro ocorre principalmente entre os empregos que pagam até dois salários mínimos. O saldo entre admitidos e demitidos só é positivo até essa faixa salarial, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Acima dessa faixa, demite-se mais do que se contrata. O avanço do salário mínimo, cujo poder de compra vem crescendo, "empurra" uma parte desses trabalhadores para a base da pirâmide salarial, compondo uma forte concentração nos postos de trabalho com salários menores.
Para especialistas em mercado de trabalho ouvidos pelo Valor, a concentração das novas vagas em baixo salários é um sinal de que não existe, de forma generalizada, um apagão de mão de obra qualificada.
Dados do Caged mostram que entre janeiro e setembro deste ano o saldo de empregos foi positivo em 1,78 milhão, com a criação de 1,92 milhão de vagas na faixa que paga até dois salários mínimos e o fechamento de cerca de 140 mil entre as faixas que pagam acima desse valor. As vagas criadas para pagar "baixos salários" foram 7,44% maiores que o saldo total de vagas. Nesse mesmo período em 2010, a relação era menos significativa, de 5,35% - 2,29 milhões de empregos que pagavam até dois salários mínimos foram criados, contra o saldo de 2,18 milhões de vagas criadas.
Esse movimento indica que as empresas estão demitindo pessoas que ocupam cargos com salários maiores e pagando menos na hora de contratar. "Há um "empacotamento" da estrutura de remuneração no salário mínimo. As empresas demitem quem recebe mais e contratam pagando valores indexados ao mínimo", afirma Claudio Dedecca, professor de economia da Unicamp.
A concentração nessa faixa mais baixa também ocorre porque o salário mínimo tem avançado significativamente e o seu poder de compra, aumentado. "No ano que vem, quando o salário mínimo crescer ainda mais, essa concentração vai aparecer com ainda mais intensidade", explica João Saboia, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ). Os cálculos do Ministério do Planejamento para o reajuste do mínimo em 2012 chegam a 14,26% e o valor, por enquanto, está fixado em R$ 622,73.
O tipo de emprego criado no país é determinante na hierarquização dos salários. No Brasil, é o setor de serviços que está recebendo boa parte dos cerca de 2 milhões de trabalhadores que estão entrando no mercado de trabalho neste ano. "A realidade brasileira é explicada pela nossa estrutura ocupacional, que gera empregos sobretudo no setor de serviços, e mais recentemente na construção civil. Em serviços, muitos jovens têm o seu primeiro emprego. O telemarketing é um bom exemplo. E essas vagas pagam salários baixos", diz Sérgio Mendonça, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A desaceleração da economia e a inflação maior produziram aumentos reais menores em 2011, o que corroeu o rendimento dos trabalhadores e manteve o condicionamento de grande parte dos salários ao valor do mínimo. Foram raros os casos em que as negociações coletivas trouxeram aumentos reais maiores que 2%.
Além disso, a evolução do rendimento médio da população ocupada está desacelerando. Em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2010, o avanço foi de 0,01%. Na comparação entre os meses de agosto de 2010 e 2011, o crescimento tinha sido de 3,15%. Ao mesmo tempo, a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PME / IBGE), realizada em seis regiões metropolitanas, mostra que o desemprego está caindo constantemente e atingiu recorde de baixa em setembro, com 6,0%.
"Não existe apagão de mão de obra qualificada. Nem sobra. Se sobrasse, o mercado não teria como absorvê-los. Em algumas situações bem específicas, faltam profissionais mais qualificados, como na construção civil, mas essa parcela representa muito pouco no conjunto de 2 milhões de empregos que estão sendo gerados nos últimos anos", afirma Mendonça. "E também não adianta ter oferta de profissionais cada vez mais escolarizados se as vagas que estão sendo criadas são para ficar atrás de um balcão no comércio."
A capacidade do mercado de trabalho no Brasil absorver tantos profissionais com ensino superior também é questionada por Saboia. "Há muitas escolas de baixíssimo nível formando pessoas mal preparadas, que acabam sendo dispensadas pelo mercado e ocupando vagas que exigem qualificação menor. Talvez seja o momento de formar menos universitários e mais pessoas em cursos técnicos", sugere o professor da UFRJ.
Esse apagão de mão de obra, contudo, pode chegar, e em pouco tempo, segundo Mendonça, do Dieese. Ele explica que o crescimento da população economicamente ativa está se desacelerando no país, reflexo do processo de envelhecimento pelo qual a sociedade brasileira começa a passar, o que deve apertar o abastecimento de mão de obra caso se confirme um ritmo de crescimento em torno de 4% nos próximos anos. "Se esse cenário vingar, teremos um problema de força de trabalho, a não ser que se invista em tecnologia para mecanizar alguns setores ou se importe mão de obra", explica
22-11-2011 – Repórter Brasil
Cresce a taxa de rotatividade de mão de obra no Brasil
Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que índice passou de 45%, em 2001, para 53,8%, em 2010. Só no passado, soma de desligamentos atingiu 22,8 milhões
Por Repórter Brasil
Não foram apenas os almejados empregos formais que aumentaram no Brasil nos últimos anos. A taxa de rotatividade de mão de obra também cresceu substantivamente ao longo da década que se passou, conforme estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em convênio com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
A partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), a entidade relacionou o valor mínimo entre admitidos e desligados com o estoque médio de cada exercício. De um patamar de 45%, em 2001, a taxa de rotatividade saltou para 52,5%, em 2008 (ano da crise), e depois recuou para 49,4%, em 2009. No ano passado, o índice subiu novamente para 53,8%.
Foi calculada também uma "taxa de rotatividade descontada", que não levou em conta as demissões realizadas a pedido dos trabalhadores, os casos de morte, de aposentadorias e de transferências (mudança contratual). Sem esses desligamentos, a taxa "descontada" - que em 2001 era de 34,5%, e chegou a cair em alguns períodos (32,9% em 2004) - alcançou expressivos 37,3% em 2010 (pouco abaixo do pico de 37,5% de 2008, ano da crise).
"As altas taxas de rotatividade, mesmo após os descontos destes motivos de desligamentos, são indicativas da liberdade de demitir no país, dado que a `institucionalidade` deste mercado não prevê mecanismos que inibam as demissões imotivadas", destaca o estudo.
Segundo os autores, as demissões imotivadas são "facilitadas pela flexibilidade contratual que impera e caracteriza o funcionamento do mercado de trabalho no Brasil". Segundo o Dieese, a adoção da Convenção 158, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), não tem como objetivo vedar as demissões - como costumam enfatizar representantes do setor patronal - mas estabelecer critérios a serem observados para que elas se realizem.
Entre 2003 e 2009, o total de vínculos empregatícios no ano cresceu 49,5% (de 41,9 milhões para 61,1 milhões). Tomando como referência as datas de 31 de dezembro de 2002 e 31 de dezembro de 2009, os vínculos ativos revelam que houve geração de 12,5 milhões de empregos durante o período. O número de desligados, contudo, também aumentou durante esses seis anos, passando de 12,2 milhões em 2003 para 19,9 milhões em 2009.
Também foi demonstrado que a rotatividade é um fenômeno concentrado. Em 2010, 126 mil estabelecimentos (3,5% do total dos que prestaram informações à Rais) foram responsáveis por 14,4 milhões (63%) dos 22,7 milhões de desligamentos registrados no ano. Construção civil e agricultura, que seguem determinadas sazonalidades, despontam como os setores com maior rotatividade. Na categoria dos subsetores, destacam-se aqueles em que as taxas de rotatividade de 2009 superaram a média dos setores aos quais pertencem, como o comércio varejista (59% e taxa descontada de 42%), dentro do comércio, em geral; a administração de imóveis e valores mobiliários (79%, taxa descontada de 59%), no setor mais amplo de serviços; e alimentos e bebidas (63%, taxa descontada de 44%), bem como calçados (59%, taxa descontada de 46%), no setor da indústria da transformação.
O tempo médio de emprego também encurtou, demonstra a pesquisa. Em 2000, os empregados ficaram cerca de 4,4 anos em cada emprego. Em 2009, essa média chegou a 3,9 anos. Na comparação com outros 25 países, o Brasil só não apresentou tempo médio mais baixo que os Estados Unidos, país em que a média é sete meses inferior. A Dinamarca, que apareceu logo depois do Brasil na comparação, tem média de 7,6 anos; Itália, França e Bélgica foram as "campeãs", com 11,7, 11,6 e 11,6, respectivamente,
Segundo o estudo, a rotatividade é uma característica marcante do mercado de trabalho formal brasileiro. O estoque de empregados contratados no país tem aumentado. A Rais vem atingindo resultados positivos em série desde 2003, mesmo nos anos em que a economia pouco cresceu. "Entretanto, é elevada a taxa de rotatividade anual, fruto dos `ajustes da mão de obra" praticados pelas empresas, por meio de milhões de desligamentos, seguidos de admissões no decorrer do exercício (...)`", completam os autores.
Confira a íntegra do livro Rotatividade e Flexibilidade no Mercado de Trabalho: