O Auditor-Fiscal do Trabalho Antônio Parron foi ouvido pela reportagem, bem como professores, pesquisadores, especialistas e representantes de entidades ligadas à temática
Por Lourdes Marinho, com informações do portal de notícias BHAZ
O Portal de notícias BHAZ publicou, no dia 23 de março, a matéria “Sem escola, sem recreio, sem futuro: Pandemia força crianças a trabalhar”. O texto trata do especial
Sem Recreio, investigação da equipe de reportagem do projeto
Lição de Casa, que fez um levantamento da situação de crianças e adolescentes que abandonaram a escola neste período de pandemia para trabalhar. O projeto jornalístico Lição de Casa faz cobertura independente dos impactos da pandemia na educação brasileira.
A matéria do BHAZ mostra que a reportagem especial “Sem Recreio” traz relatos de pequenos cidadãos que deixaram o estudo e a infância de lado para exercer as mais diversas funções laborais, em busca de sobrevivência, complemento da renda familiar ou mesmo ocupação do tempo em que estariam aprendendo nas escolas que foram fechadas durante a pandemia.
Em todas as regiões brasileiras, pelo menos 70 meninos e meninas de dez estados e do Distrito Federal foram vítimas de exploração do trabalho infantil no primeiro ano da pandemia do coronavírus.
Doze jornalistas espalhados pelo país foram às ruas e ouviram profissionais que estão na ponta, diante de famílias vulneráveis, e perceberam a intensificação do problema. As situações foram vistas e narradas por um professor, um Auditor-Fiscal do Trabalho, um conselheiro tutelar, um procurador do Trabalho e um dos repórteres. Foram entrevistadas mais de 20 fontes, incluindo pesquisadores, especialistas e representantes de entidades ligadas à temática.
Os relatos contemplam as
piores formas de trabalho precoce: trabalho doméstico, análogo à escravidão, tráfico de drogas, lavouras, garimpo, catação, mendicância, aplicativos de entrega. Mas também há casos que costumam ser romantizados ou relativizados, como filhos “ajudando” na lanchonete dos pais ou fazendo doces para vender no bairro, contribuir em casa, comprar um presente.
Trabalho escravo
No primeiro ano de pandemia, em três operações de resgate no Mato Grosso do Sul foram encontrados menores de idade – o que surpreendeu o Auditor-Fiscal do Trabalho Antônio Parron. “Fazia muito tempo [desde 2003] que eu não via tanto menino assim em serviço pesado”, afirmou ele, que está nessa função há 25 anos.
Segundo Parron, oito adolescentes foram escravizados no município de Nioaque. Em Porto Murtinho, dois indígenas de 14 e 15 anos foram resgatados fazendo limpeza de pasto com uso de agrotóxico. Estavam em condições semelhantes à escravidão havia dois meses, alojados em barracos de lona, sem banheiro, no meio do mato. Saiba mais sobre estes resgates
aqui.
Denúncias
De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, o trabalho infantil atinge, majoritariamente, crianças pobres, em geral negras ou pardas, moradoras da periferia, conforme o
perfil mais comum dessas vítimas. Mas a interface dessa violação com o racismo e a pobreza é pouco percebida.
No primeiro semestre de 2020, o Disque 100 – Direitos Humanos – recebeu, em média, dez denúncias por dia referentes à exploração da mão de obra infantil. O dado inédito, obtido pela reportagem via Lei de Acesso à Informação, aponta que em todo o país foram 1.859 registros em seis meses. No ano de 2019, eram cerca de 11 denúncias diárias – um total de 4.246 em um ano inteiro. Apesar de aparentar uma ligeira queda, no ano passado o número pode ser lido como alto, de acordo com especialistas, justamente por estar subnotificado em uma época atípica de isolamento social.
Confira
aqui a íntegra da reportagem em que grande parte das histórias que constam no mapa do especial Sem Recreio vieram à tona por meio de professores e diretores que estão preocupados com a redução de suas salas de 40 para até 5 alunos nas plataformas on-line.